O papa Francisco realizou um encontro bastante informal nesta segunda-feira (18/3) com a presidente argentina, Cristina Kirchner, antes de almoçar com ela em sua residência provisória do Vaticano, anunciou o porta-voz da Santa Sé em uma coletiva de imprensa.
Kirchner e o até a última quarta-feira arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio mantêm relações tensas e esperava-se que este encontro, que deveria começar às 12h50 GMT (9h50 de Brasília), servisse para aproximar as duas partes antes da missa de entronização oficial do pontificado de Francisco, na terça-feira. As divergências entre ambos começaram durante a presidência de seu marido, o falecido Néstor Kirchner, que não apreciava as críticas nas homilias do então arcebispo, que denunciava com frequência o escândalo da pobreza ou o flagelo da droga e do crime na Argentina.
Néstor Kirchner chegou a classificar Bergoglio de "verdadeiro líder da oposição". A relação ficou ainda mais tensa com a legalização, em 2010, do casamento homossexual na Argentina. Desde sua eleição, na quarta-feira, a única sombra no início do papado deste austero Papa jesuíta que seduziu os fiéis com sua humildade, sua proximidade e seus discursos simples foram acusações sobre sua suposta passividade durante a ditadura que atingiu a Argentina entre 1976 e 1983, ressuscitadas em seu país e retomadas pela imprensa mundial.
O Papa é criticado por não ter feito o suficiente para proteger dois sacerdotes de sua ordem, Francisco Jalics e Orlando Yorio, sequestrados e torturados pelos militares. Diante da proporção que o assunto tomou, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, publicou na sexta-feira uma declaração que rejeitava estas acusações como caluniosas e atribuía sua origem à esquerda anticlerical.
Cristina Kirchner é a primeira dos diversos chefes de Estado e de Governo que serão recebidos pelo novo Papa. Após a cerimônia solene na terça-feira, o pontífice receberá os representantes das 130 delegações oficiais, entre eles a presidente Dilma Rousseff e o líder mexicano, Enrique Peña Nieto, que dirigem os dois países com mais católicos do mundo.