O novo papa Francisco ajudará a Igreja católica a "sair de si em direção às periferias existenciais", abandonando sua atual posição "autorreferencial", segundo um documento escrito pelo próprio pontífice antes de ser eleito, divulgado nesta quarta-feira em Havana.
"Pensando no próximo Papa: um homem que, a partir da contemplação de Jesus Cristo e da adoração de Jesus Cristo, ajude a Igreja a sair de si em direção às periferias existenciais, que a ajude a ser a mãe que vive da 'doce e confortadora alegria de evangelizar'", afirmou o então cardeal argentino Mario Bergoglio.
O documento, publicado no site da Conferência Episcopal cubana (iglesiacubana.org), foi o discurso de Bergoglio na Congregação Geral do Vaticano, realizado antes do conclave, e que o argentino entregou ao cardeal cubano, Jaime Ortega, com autorização para divulgá-lo.
"Evangelizar significa na Igreja a afirmação de sair de si mesma. A Igreja está convocada a sair de si mesma e a ir em direção às periferias, não apenas as geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, as da dor, as da injustiça, as da ignorância e da prescindência religiosa, as do pensamento, as de toda a miséria", acrescenta.
O atual Papa sustenta que "quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece" e "tem a intenção de manter Jesus Cristo dentro de si e não o deixa sair".
"A Igreja, quando é autorreferencial, sem perceber, acredita que tem luz própria; deixa de ser o mysterium lunae e dá lugar a esse mal tão grave que é a mundanidade espiritual (segundo De Lubac, o pior mal que pode acontecer com a Igreja). Este viver para dar glória a uns e outros", acrescentou.
Simplificando, afirma Bergoglio, "há duas imagens da Igreja: a Igreja evangelizadora que sai de si; a Dei Verbum religiose audiens et fidenter proclamans, ou a Igreja mundana que vive em si, de si, para si. Isto deve lançar luz sobre as possíveis mudanças e reformas que precisam ser feitas para a salvação das almas".