Senadores americanos afirmaram nesta segunda-feira que a reforma do sistema migratório ajudará a evitar futuros ataques terroristas, alertando que seria "cruel" explorar o duplo ataque em Boston como uma razão para adiar essa mudança.
Em uma audiência do Comitê Judiciário, congressistas se dividiram sobre relacionar o atentado a uma legislação migratória mais severa, no momento em que o Senado avalia um plano bipartidário que poderá regularizar a situação de cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais nos EUA.
O presidente do Comitê Judiciário, Patrick Leahy (D-VT), foi o porta-voz dos democratas ao defender que o projeto de lei aumentará a segurança, apertando a vigilância nas fronteiras e melhorando os registros de entrada e de saída do país.
"Não vamos deixar que ninguém seja tão cruel a ponto de usar os atos abomináveis de dois jovens, na última semana, para desmanchar os sonhos e futuros e milhões de pessoas que trabalham duro", declarou Leahy, no início de uma longa audiência.
"Uma nação tão forte quanto a nossa pode receber os oprimidos e perseguidos sem comprometer nossa segurança", frisou.
O texto, negociado em segredo por quatro senadores democratas e por quatro republicanos, conhecidos como Gangue dos 8, pede melhorias drásticas para garantir a segurança ao longo da fronteira com o México, ao sul, por um período de dez anos antes que qualquer imigrante ilegal possa se candidatar a um visto de residência permanente.
A questão atingiu um ponto crítico na audiência com a intervenção do democrata Chuck Schumer, que se referiu "àqueles que estão apontando para o que aconteceu, a terrível tragédia em Boston, como, vamos dizer, uma desculpa para não trabalhar no projeto de lei, ou adiá-lo por meses ou anos".
"Eu nunca disse isso!", rebateu o senador republicano Chuck Grassley, que havia questionado os méritos de algumas das medidas de segurança do projeto.
Na sexta-feira, durante o primeiro dos três debates sobre imigração já marcados para os próximos dias, pelo menos, Grassley relacionou o ataque terrorista de Boston e as políticas de imigração, defendendo que os congressistas deveriam estudar se os suspeitos exploraram "fraquezas" na lei.
O congressista Steve King (Iowa), um dos republicanos favoritos do Tea Party, foi ainda mais direto, declarando ao "National Journal" que o país não deveria se apressar em aprovar uma reforma imigratória, especialmente após o ataque em Boston.
Schumer e Leahy disseram ser favoráveis à introdução de emendas durante o processo de "markup" que possa melhorar a legislação fundamental para imigração. "Markup" é o processo pelo qual comissões e subcomissões do Congresso debatem, propõem emendas e revisam legislações.
"Se há coisas que apareceram como resultado do que aconteceu em Boston e que precisam de melhorias, vamos adicioná-las ao projeto", argumentou Schumer.
"Com certeza, nosso projeto de lei torna as coisas mais rígidas de uma maneira que um (novo ataque) Boston seria menos provável, como mudanças no sistema de entrada e saída de vistos, a necessidade de que 11 milhões de pessoas aqui se legalizem", acrescentou.
O senador republicano Marco Rubio, um dos autores do projeto e possível candidato às primárias de seu partido para 2016, também inflamou o debate.
"Não concordo com aqueles que dizem que o ataque terrorista em Boston não tem importância no debate migratório", afirmou.
"Qualquer reforma imigratória que busquemos deve deixar nosso país mais seguro", frisou, pedindo novas audiências na Casa.
"Se há falhas no nosso sistema imigratório que foram expostas pelo ataque em Boston, qualquer reforma migratória aprovada pelo Congresso este ano deve tratar dessas falhas", insistiu.