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Estado de Minas

Câmara dos Deputados argentina aprova polêmica reforma do Judiciário

Deputados ratificam legislação que limita recursos contra o governo e determina eleição popular para órgão supervisor. Oposição denuncia amputação da independência dos poderes


postado em 26/04/2013 00:12 / atualizado em 26/04/2013 09:45

Brasília – A Câmara dos Deputados argentina aprovou ontem três das seis leis que compõem a reforma no sistema judiciário, classificada presidente Cristina Kirchner como "democratização", após uma maratona de mais de 20 horas de debates que entrou pela madrugada, com direito a bate-boca e empurra-empurra entre os parlamentares. Uma das principais propostas determina a eleição por voto popular para parte do Conselho de Magistratura, organismo que nomeia e destitui juízes, foi aprovada às 5h30, por 130 votos a 123. A oposição denuncia a reforma como inconstitucional, por aumentar os poderes do Executivo, e pretende recorrer à Justiça para barrar as mudanças. Um grande "panelaço" foi convocado nas ruas de Buenos Aires.

A bancada opositora e entidades da sociedade civil pretendem apresentar uma "catarata" de denúncias contra a reforma, segundo o jornal Clarín. "O governo tentou justificar o injustificável. O projeto é inconstitucional sob todas as luzes", declarou o deputado Mario Negri. O projeto de lei que prevê mudanças no Conselho da Magistratura eleva de 13 para 19 o número de integrantes e determina que sejam escolhidos por voto popular 12 deles – que teriam de ser filiados a partidos políticos. A proposta deve retornar em 8 de maio ao Senado, onde já tinha sido aprovada, para a ratificação de pequenas alterações introduzidas na Câmara. Analistas acreditam que o pacote aumentará perigosamente a influência política sobre os magistrados, comprometendo a independência dos poderes.

Em comunicado, a Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires afirmou que "a partidarização dos juízes é incompatível com a independência e a imparcialidade inerentes à função, e vai contra o artículo 114 da Constituição" – que diferencia o Judiciário dos organismos políticos. No entanto, o

argentino Felix Pablo Friggeri, professor de relações internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), acredita que a eleição dos conselheiros evitaria "uma elitização do poder judicial", considerado por ele um dos mais "contrários às minorias". "O Judiciário sempre vai ser politizado. Se continuar dependente do poder econômico, isso é ruim, mas também não pode ser dependente do Executivo. É preciso encontrar um equilíbrio", observou Friggeri.

Após a votação na Câmara, passam a vigorar também a lei que cria mais três câmaras de cassação, vistas pelos opositores como causa da lentidão do sistema, e a lei que limita a aplicação de medidas cautelares contra o governo. Essa última teria como pano de fundo a briga entre a presidente e o Grupo Clarín: o conglomerado de mídia conseguiu impedir, por meio de recurso, a aplicação de um item antimonopólio incluído na lei de meios audiovisuais. Essa cláusula obrigaria o maior grupo de mídia do país a negociar ativos. A manobra foi vista como uma derrota para Cristina, que tem antiga rivalidade com o grupo Clarín. A reforma aprovada ontem determina que recursos judiciais contrários ao Estado tenham vigência limitada a seis meses. "A nova lei freia o poder dos grandes grupos econômicos", avalia Friggeri.

Controle

Carlos Gervasoni, cientista político da Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires, sustenta que a intenção da presidente seria exercer "maior controle político sobre o Judiciário". Com a reforma, ela teria o poder indireto de nomear e destituir juízes, exercendo influência sobre membros do Conselho de Magistratura, e o de eliminar obstáculos judiciais. "Será muito mais fácil para o governo vencer batalhas na Justiça. O kirchnerismo já tem maioria no Senado, na Câmara e entre os governadores. Agora, a presidente terá instrumentos para aumentar a pressão e limitar os juízes", explica Gervasoni.

Alberto Pfeifer, membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que esse cenário pode favorecer o eventual plano de Cristina para disputar em 2015 um terceiro mandato, o que não é permitido pela Constituição.


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