O projeto de lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo superou nesta terça-feira na Câmara dos Comuns britânica uma etapa crucial no caminho para sua adoção, um dia depois do acordo entre o primeiro-ministro David Cameron e a oposição trabalhista para evitar a obstrução de deputados conservadores.
Após dois dias de intenso debate, o texto apresentado pela coalizão de conservadores e liberal-democratas recebeu o apoio de 366 deputados e, agora, passará para a Câmara dos Comuns. Outros 161 votaram contra.
Como já aconteceu na primeira votação, realizada em fevereiro passado, o projeto de lei sobre o casamento homossexual foi aprovado graças ao apoio majoritário de trabalhistas e dos liberal-democratas, já que dezenas de membros do dividido partido de Cameron votaram contra.
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Suicídio dentro da Notre Dame pode ter sido ato de protesto contra casamento gayCasamento gay volta a ser discutido no Parlamento britânicoPresidente francês assina lei que permite casamento gayOpositores fazem manifestação contra o casamento gay em ParisEmbora tenha parecido inicialmente que os trabalhistas iriam apoiar a emenda para estender aos heterossexuais as uniões civis criadas no Reino Unido para casais do mesmo sexo 2005, no último momento, chegaram a um acordo com o governo, e o texto foi derrotado.
Para não enterrar o projeto definitivamente, os trabalhistas impuseram, em contrapartida, outra emenda que obriga o governo a começar a estudar essa ampliação o quanto antes - e não dentro de cinco anos, como havia sido prometido.
Depois dos Comuns, o projeto de lei deve ser apresentado quarta-feira na Câmara dos Lordes. O texto não deve ser examinado antes de junho.
O debate na Câmara Alta também deve ser animado. A Casa tem 25 assentos permanentes de 25 bispos da Igreja Anglicana, opositora ferrenha da iniciativa.
Se os Lordes emendarem o texto, ele deve voltar para a Câmara Baixa antes de ser submetido ao consentimento real. Por isso, é provável que os primeiros casamentos comecem a ser realizados somente em meados de 2014.
Embora o casamento gay tenha apoio da maioria dos britânicos - 54%, segundo a última pesquisa YouGov -, a direita conservadora se opõe majoritariamente à sua legalização.
O lorde conservador Norman Tebitt, de 82 anos, advertiu que a mudança pode até levar "a uma rainha lésbica que se casa com outra senhora e então decide que gostaria de ter um filho e dá à luz um bebê". Em entrevista à revista "The Big Issue", ele ainda pergunta: "Seria esse menino herdeiro do trono?".
Diante da divisão política que o tema causa nos "Tories" e de seu impacto na relação da Grã-Bretanha com a União Europeia (UE), vários conservadores acusaram Cameron de estar desatualizado sobre as opiniões do partido e de estar provocando uma fuga de eleitores para o "eurofóbico" e anti-imigrante UKIP. O grupo se encontra no auge a dois anos das eleições gerais.
A polêmica provocada pela revelação feita durante o fim de semana de que um membro da equipe de Cameron havia chamado as autoridades locais do partido de "loucos, bobos de olhos revirados" aumentou a indignação.
Para tentar acalmar os ânimos, David Cameron enviou na segunda à noite uma mensagem apaziguadora a todos os membros do Partido Conservador, pedindo-lhes unidade.
"Somos uma equipe: do conselho paroquial à associação local e ao Parlamento. Não me esqueço disso nunca", escreveu.
"Quer dizer que devemos estar de acordo em tudo? É claro que não (...) Mas também há muitas coisas que devemos fazer juntos", acrescentou, citando a "grande luta" para recuperar a economia, ou melhorar o sistema educacional.