Os Estados Unidos elogiaram a decisão da União Europeia de retirar o embargo sobre o fornecimento de armas à oposição síria, mas se recusam a armar os rebeldes, temendo embarcar em uma "guerra por procuração" contra o Irã e a Rússia, consideram os especialistas.
Há meses, o presidente Barack Obama é pressionado pelos republicanos no Congresso e até mesmo por membros de seu governo a entregar armas à oposição síria, a quem fornece ajuda não-letal, a espera de uma solução política para o conflito por meio de uma conferência internacional a ser realizada em Genebra, em junho.
"Em última análise, os Estados Unidos não têm apetite para uma intervenção na Síria (...) e não querem um recrudescimento da guerra", resumiu à AFP o analista Aram Nerguizian, do Center for Strategic and International Studies (CSIS) de Washington.
"O presidente é, finalmente, quem deve tomar uma decisão sobre a Síria", ressalta o analista, que critica a "inconsistência da política dos Estados Unidos sobre a questão de armar ou não" os rebeldes, um assunto ao qual a Casa Branca, o Pentágono e o Departamento de Estado se "referem de forma confusa".
O governo americano menciona há meses os grandes riscos de fornecer armas aos rebeldes.
Teme, por exemplo, que lança-mísseis Stinger caiam nas mãos erradas, como as dos temidos jihadistas da Frente Al-Nusra, aliada da Al-Qaeda, que luta contra as forças leais ao presidente sírio Bashar al-Assad.
O ex-embaixador americano no Iraque, Ryan Crocker, declarou esta semana na Universidade de Stanford (Califórnia) que seu país "não sabe o suficiente sobre a oposição síria fragmentada para intervir ou armá-la".
O precedente afegão
Os Estados Unidos cooperam há meses com a rebelião síria moderada, liderada pelo Supremo Conselho Militar Sírio e o Exército Sírio Livre, do general Salem Idris.
Mas "mesmo se entregarmos armas ao general Idris (...) como impedir que não acabem nas mãos da Al-Nusra?", pergunta-se Nerguizian, traçando paralelos históricos com "o Líbano durante a guerra civil (...) a Líbia ou o Iraque".
Salman Shaikh, diretor do Brookings Center em Doha, consider que "o precedente afegão deixou uma lição" para os americanos, que tiveram de enfrentar islamitas armados anos antes para lutar contra os soviéticos.
E quanto mais poder os jihadistas alcançam entre os insurgentes sírios, menos "você pode jogar com a Al-Qaeda e militantes islâmicos que querem desestabilizar a região", prevê Nerguizian.
Embora a oposição síria esteja em dificuldades no terreno, principalmente neste momento em que o Exército sírio apoiado pelo movimento xiita libanês Hezbollah se prepara para recuperar a cidade estratégica de Qousseir, Washington continua relutante em se envolver ainda mais no conflito, constatam analistas e diplomatas.
"Ao fornecer armas letais, os Estados Unidos se envolveriam diretamente em uma guerra por procuração, especialmente contra os russos" que, como os iranianos, apoiam Damasco, considera Shaikh.
Washington advertiu Moscou para os riscos da entrega de mísseis antiaéreos S-300 ao regime de Assad, lembrando que a Rússia desempenha um papel fundamental na busca de uma solução negociada para o conflito.
"Mas se a diplomacia falhar", teme Nerguizian, "os Estados Unidos podem (começar) a armar certos grupos, o que provocaria uma disputa de poder que poderia durar anos".
"É um risco real", acredita.