Jornal Estado de Minas

ONU exige acesso humanitário imediato a cidade síria

AFP

O Conselho de Segurança da ONU pediu nesta sexta-feira ao governo sírio "acesso imediato" para as organizações humanitárias à população civil de Qousseir (centro-oeste), antigo reduto rebelde reconquistado na quarta pelo Exército.

Paralelamente, a ONU lançou um pedido por 5,2 bilhões de dólares em recursos, um valor recorde, para ajudar até dezembro mais de 10 milhões de sírios afetados pelo conflito, ou seja, quase a metade da população de um país devastado por mais de dois anos de violência.

Para a imprensa, a cobertura do conflito continua sendo complicada. A rádio francesa Europe 1 indicou que não tinha notícias nesta sexta de dois jornalistas franceses na Síria, enquanto Paris não descartou um sequestro. Vários jornalistas foram sequestrados nos últimos meses na Síria.

Depois da reconquista de quarta, com a ajuda crucial do Hezbollah libanês, a cidade de Qousseir, devastada por duas semanas de combates intensos, o Exército lançou nesta sexta um ataque contra Boueida al-Charqiya, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Centenas de feridos e de civis de Qousseir fugiram dessa localidade, segundo o OSDH, que se baseia em uma vasta rede de militantes e de fontes médicas civis e militares.

Em uma declaração unânime, incluindo a Rússia --aliada de Damasco-- o Conselho de Segurança exigiu ao governo sírio um "acesso imediato, seguro e sem entraves" aos civis que precisam de ajuda humanitária de urgência em Qousseir, lembrando que cabe, em primeiro lugar, ao governo protegê-los.

"O Exército não deixa uma porta de saída aos rebeldes, aos civis, ou aos feridos. Ele quer destruir os rebeldes ou fazer prisioneiros", alertou o chefe do OSDH, Rami Abdel Rahman.

Ao nordeste, o Exército mobilizou "milhares de soldados" na região de Aleppo, com o objetivo de cortar o abastecimento dos rebeldes a partir da Turquia, segundo o OSDH.

-- Exército libanês lança advertência --

Nas Colinas de Golã, Israel reforçou sua presença militar na parte da região que o país ocupa desde 1967, temendo um transbordamento do conflito sírio no dia seguinte a combates em torno da localidade de Qouneitra.

No vizinho Líbano, o Exército lançou uma advertência após a intensificação da violência na fronteira, alertando que responderá "às armas pelas armas" e acusando "alguns grupos" de continuar a criar tensões.

Ainda nesta sexta, uma pessoa morreu em Trípoli (norte) durante confrontos ligados ao conflito na Síria. Na noite de quinta, uma pessoa tinha sido morta em violentos combates.

No momento em que as clivagens religiosas são cada vez maiores entre sunitas e alauitas (minoria oriunda do xiismo da qual faz parte o clã Assad) no conflito sírio, a União Internacional dos Ulemás, liderada pelo influente pregador Yussef al-Qaradaui, convocou para o dia 16 de junho uma "jornada de ira e de apoio" aos rebeldes sírios, em sua maioria sunitas.

A associação, com sede no Catar, classificou a "colaboração" entre o regime sírio, o Irã xiita e o Hezbollah como uma "declaração de guerra contra todo o mundo muçulmano".

Enquanto isso, o OSDH divulgou um vídeo mostrando a execução por roubo e assassinato do chefe de uma brigada rebelde por decisão de um "tribunal islâmico" em Aleppo.

Vários grupos rebeldes islamitas criaram "tribunais islâmicos" em áreas sob seu controle na Síria, que infligem penas inspiradas na sharia (lei islâmica).

Uma rede de televisão belga difundiu um outro vídeo que teria sido filmado na Síria e no qual aparecem homens falando holandês e francês, com um sotaque belga, mostrando a decapitação de um homem.

A Promotoria federal belga, encarregada das questões de terrorismo, indicou que o vídeo será examinado durante uma investigação aberta sobre a participação de voluntários belgas na Síria.

Uma mulher de dupla nacionalidade austríaca e síria membro de uma agência de ajuda humanitária foi libertada, depois de ter sido detida em dezembro na cidade de Aleppo pelos serviços de inteligência sírios, anunciou sua família nesta sexta.