Brasília – O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, baixou o tom, mas refirmou os planos para a reurbanização do Parque Gezi, em Istambul, que motivaram uma onda de protestos contra o seu governo, duramente reprimidas pela polícia. Durante encontro com o comissário da União Europeia (UE), Stefan Fule, Erdogan ouviu críticas e foi alertado sobre as preocupações internacionais com a situação em seu país. Furle pediu investigações e respeito à democracia. Em resposta, o premiê acusou a UE de usar "dois pesos e duas medidas" e lembrou que as policiais europeias usaram métodos parecidos para conter manifestações. "Protestos similares aconteceram no Reino Unido, na França, na Alemanha e, ainda maiores, na Grécia", comentou. Ao mesmo tempo, Erdogan se mostrou um pouco mais conciliador e prometeu estar pronto para ouvir todas as "reivindicações democráticas". "Somos contrários à violência, ao vandalismo e às ações que ameaçam os outros em nome das liberdades (…), mas recebemos, de todo o coração, os que vêm com exigências democráticas", declarou, durante discurso em um fórum internacional, em Istambul.
Fule, responsável pelas negociações para a incorporação de novos membros à UE, se encontrou com ativistas e visitou o acampamento na Praça Taskim, onde milhares de pessoas voltaram a se reunir, ontem, para protestar contra o governo Erdogan. "Desapontado pela oportunidade perdida na Conferência de Istambul de se aproximar daqueles que pedem respeito e diálogo inclusivo", escreveu Fule, em sua página no Twitter. Pouco antes, ao discursar na presença do chefe de governo, ele defendeu que "o uso excessivo de força não tem espaço em democracias que buscam entrar na UE". A Turquia aspira uma vaga no bloco.
Diversos setores da sociedade participaram das demonstrações, inclusive grupos religiosos que, apesar de serem islâmicos como o premiê, não concordam com as medidas recentes do governo. "Se Erdogan se mostrar um pouco mais flexível, é provável que consiga acalmar os manifestantes, mas o que parece é que ele quer impor sua vontade", explica Gunther Rudzit, coordenador do curso de relações internacionais das Faculdades Rio Branco.
Os manifestantes se recusam a deixar a Praça Taskim, epicentro dos protestos, enquanto o governo não aceitar suas exigências. Entre elas, está a conservação do parque e a demissão dos chefes de polícia. Pela primeira vez, os militantes compraram uma página em um jornal de grande circulação para divulgar suas ideias. O jornal The New York Times teve, em sua edição de ontem, uma página patrocinada por doações feitas a favor dos manifestantes.