Jornal Estado de Minas

Moderado Rohani é o novo presidente do Irã

Candidato vence em primeiro turno com 50,68% dos votos e comemora a vitória do "progresso sobre o extremismo"

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Eleitores comemoraram a eleição de Rohani nas ruas de Teerã - Foto: REUTERS/Yalda Moayeri
Teerã – O clérigo moderado Hassan Rohani, de 64 anos, surpreendeu ontem ao vencer as eleições para a Presidência do Irã no primeiro turno. Apoiado pelo campo reformista, ele conquistou 18,6 milhões de votos (50,68%), segundo dados oficiais. Analistas e projeções indicavam, até a sexta-feira, que haveria um segundo turno no país entre o clérigo e o prefeito conservador de Teerã, Mohammad Galibaf. Rohani sucederá ao polêmico presidente Mahmud Ahmadinejad, em seu segundo mandato (2005–2013). O líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, ratificará a votação em 3 de agosto, quando o 17º presidente da República islâmica fará o juramento no Parlamento.

 Em mensagem lida na noite de ontem na TV estatal, o novo presidente saudou a "vitória da moderação sobre o extremismo". "Essa vitória é a da inteligência, da moderação, do progresso sobre o extremismo", afirmou. Segundo o ministro do Interior, Mostapha Mohammad Najjar, o segundo colocado, Galibaf, recebeu 6,07 milhões de votos. Em terceiro ficou o chefe dos negociadores na questão nuclear, Said Jalili, com 3,17 milhões. Jalili era o candidato da ala mais conservadora dos religiosos. A participação foi de 72,7% das 50,4 milhões de pessoas aptas a votar. Rohani se viu beneficiado com a desistência de outro candidato reformista, Mohammad Reza Aref, e pelo apoio de dois ex-presidentes – Mohammad Khatami (1997–2005) e Akbar Hashemi Rafsanjani (1989–1997).

 

Em seu site oficial, Khamenei instou todos a "trabalhar com o presidente para alcançar os objetivos do governo para a nação". Em um comunicado, o governo francês disse estar "pronto para trabalhar" com Rohani. "As expectativas da comunidade internacional com relação ao Irã são significativas, especialmente sobre seu programa nuclear e seu envolvimento com a Síria", disse o comunicado do ministro da Relações Exteriores, Laurent Fabius. O governo britânico, por sua vez, o conclamou a "aproveitar a oportunidade para definir ao Irã um curso diferente para o futuro".

 MAIS PACÍFICO Diferentemente das eleições de 2009, quando as redes sociais registraram os protestos duramente repreendidos nas ruas, desta vez as postagens na internet foram de esperança de que o líder dê novos rumos à nação persa. A cor verde que marcou a mobilização de quatro anos atrás foi substituída pela lilás, usada pelos partidários de Rohani, que tomaram as ruas pacificamente. Aos gritos de "longa vida à reforma, longa vida a Rohani" e "bye, bye Ahmadinejad", manifestantes se aglomeraram próximo ao prédio do Ministério do Interior. Em nota enviada pela Embaixada do Irã no Brasil à imprensa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que o povo iraniano demonstrou sua "determinação e vontade própria em apoio à revolução islâmica e ao sistema sagrado" do país.

 Sem perspectivas de grande guinada na política iraniana em temas estratégicos, como o nuclear ou as relações internacionais, a eleição de Rohani pode ter mudanças significativas no diálogo com o Ocidente. Em comunicado, a Casa Branca criticou o ambiente intimidador do pleito, mas declarou que os EUA estão preparados para um contato direto com o Irã sobre seu programa nuclear.

 Durante a campanha, o líder sinalizou que pretendia negociar para arrefecer as duras sanções aplicadas por potências ocidentais a Teerã por conta de seu programa nuclear. As penalidades castigam a economia persa e causam grande desvalorização da moeda local, o rial. A vitória de Rohani já rendeu uma valorização à moeda ontem de 6% em relação ao dólar.