Em um levante inédito na crise política do Egito, militantes da Irmandade Muçulmana rebelaram-se e desafiaram o poder dos militares exigindo a libertação do presidente Mohamed Morsi, deposto na quarta-feira (3) por um golpe de Estado. A reação espalhou a violência pelo país, deixando ao menos 30 mortos e levando as Forças Armadas a sitiar o centro do Cairo.
A ofensiva dos islamistas, cujo braço político, o Partido Justiça e Liberdade, era o principal da base de sustentação de Morsi no poder, começou ainda na quinta-feira (4), quando os líderes do movimento convocaram seus militantes para o que chamaram de "Dia da Rejeição". No fim da manhã, dezenas de milhares de manifestantes se reuniram mais uma vez no distrito de Nasr City, no norte do Cairo.
"Eu estou aqui para defender a legitimidade. Morsi é o presidente eleito", afirmou, exaltada, Fatma Abdel, de 29 anos, professora de Alcorão que vestia um véu integral negro (niqab) sob o sol escaldante. "Nós, islamistas, não somos terroristas. Chegamos ao poder pelas urnas e estamos defendendo o resultado."
Pouco depois do meio-dia, um imã deu início à oração de sexta-feira. Ao pronunciar a khutba, o sermão muçulmano, o líder religioso multiplicou as referências a Morsi, fazendo um apelo à reação. "Vocês são os melhores. Mas vocês pensam que Alá os deixará entrar no paraíso sem testar o sentimento que trazem nos seus corações?", questionou o religioso.
Tão logo a oração acabou, milhares de homens partiram em protestos por avenidas adjacentes de Nasr City, interrompendo o trânsito aos gritos de "Fora Sisi", uma referência ao general Abdul Fattah Al-Sisi, que anunciou o golpe de Estado na noite de quarta-feira.