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Estado de Minas

Violência acirra crise instalada no início do mês no Egito

Irmandade Muçulmana denuncia a morte de mais de 100 partidários do presidente deposto, Mohammed Morsi, sob ataque de militares


postado em 28/07/2013 06:00 / atualizado em 28/07/2013 08:51

Homem procura por corpo de parente morto durante confronto entre partidários e rivais do presidente egípcio(foto: ASMAA WAGUIH/Reuters)
Homem procura por corpo de parente morto durante confronto entre partidários e rivais do presidente egípcio (foto: ASMAA WAGUIH/Reuters)


Cairo – Com mais de 100 mortos, de acordo com a Irmandade Muçulmana – ou 38, segundo o governo egípcio –, o acampamento de vigília montado por simpatizantes do presidente deposto, Mohammed Morsi, transformou-se em epicentro de uma batalha campal com as forças de segurança, atiradores escondidos no alto de edifícios e militantes à paisana que se engajaram ao lado dos policiais. Enquanto dezenas de milhares de adversários de Morsi se manifestavam em paz na Praça Tahrir, atendendo o pedido de apoio feito pelo comandante do Exército, general Abdel Fatah al-Sissi – que é também ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro no governo provisório –, a demonstração do campo oposto degenerou em uma batalha campal que entrou pela madrugada de ontem e ameaçava acirrar ainda mais a profunda crise política no Egito.

“Condeno energicamente o uso excessivo da força e as mortes, e estou trabalhando arduamente para que o confronto termine de modo pacífico”, escreveu no Twitter o vice-presidente do governo provisório, Mohammed el-Baradei. “Deus proteja o Egito e tenha piedade das vítimas”, completou. O ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, que ordenou a dispersão do acampamento pró-Morsi, responsabilizou os militantes pela violência.

“A Irmandade Muçulmana não permitiu que as coisas se desenrolassem pacificamente”, acusou o porta-voz do ministro, Hani Abdelatif. A organização respondeu atribuindo a responsabilidade pelos choques, que deixaram mais sete mortos em Alexandria, ao general Al-Sissi, que havia convocado os adversários de Morsi a sair às ruas para apoiar o Exército na “luta contra os terroristas”. “Essas declarações incitam a violência e o ódio, e servem para encobrir os crimes odiosos do Exército e da polícia”, diz um comunicado da Irmandade.

Médicos que atendiam dezenas de feridos em um hospital de campanha montado diante da mesquita de Raab al-Adawiya, em Nasr City, relataram mais de 75 mortes, e a reportagem da agência de notícias France-Presse contou 37 corpos no local. De acordo com os profissionais, a maioria das vítimas tinha ferimentos de bala na cabeça ou no peito, resultado de disparos feitos do alto por franco-atiradores. “Eles não estão atirando para ferir, estão atirando para matar”, afirmou o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Gehad el-Haddad. Em uma contagem separada, porta-vozes do Ministério da Saúde registraram 38 vítimas no necrotério central do Cairo.

Choques com as forças de segurança e confrontos entre partidários e opositores de Morsi vinham se sucedendo desde o último dia 3, quando os militares afastaram o presidente , com um saldo acumulado de mais de 250 mortos. Mohammed Morsi, primeiro governante eleito na história milenar do Egito, foi detido e acusado de ter premeditado a morte de policiais quando liderou uma fuga em massa de prisioneiros ligados à Irmandade Muçulmana, no início de 2011 – durante a insurreição popular da Primavera Árabe, que derrubou a ditadura do general Hosni Mubarak. Desde então, militantes islâmicos estavam acampados diante de uma mesquita no Bairro Nasr City, na periferia leste da capital, mas na noite de sexta-feira as autoridades decidiram dispersar a vigília, “dentro dos limites da lei”, alegando “perturbação da ordem”.

A explosão de violência na capital acrescenta um ingrediente em um quadro político marcado pela instabilidade desde a queda de Mubarak, que governou o Egito por três décadas, virtualmente sem oposição. Com a saída do general e a organização de eleições livres, a Irmandade Muçulmana e grupos islâmicos salafistas, ainda mais radicais, emergiram das urnas com clara maioria, o bastante para dominar a assembleia que redigiu uma nova Constituição. O golpe militar contra Morsi acirrou ainda mais as disputas e abriu uma nova frente de batalha com células terroristas que vêm multiplicando os ataques contra instalações e unidades militares, principalmente na região do Sinai.

Transição caótica


Sílvio Queiroz

O ensaio para uma guerra civil no Egito, assim como as turbulências políticas nas vizinhas Tunísia e Líbia, parecem dar razão àqueles que, a exemplo do establishment político israelense, viram desde logo com desconfiança os rumos da chamada Primavera Árabe de 2011. Em Israel, que lamentou especialmente a queda do ditador egípcio Hosni Mubarak – em quem viam um parceiro confiável para gerir o impasse com os palestinos –, não foram poucos os que vaticinaram um "inverno fundamentalista" no horizonte das revoltas populares que varreram o Norte da África. Em comum, o processo nos três países mostra que a remoção súbita de um regime autoritário libera de maneira caótica energias políticas e sociais até então represadas. Na ausência de um poder central capacitado a impor a ordem – mesmo que à custa das liberdades democráticas –, o quadro que se desenha é de instabilidade, com risco de um mergulho na anarquia.


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