O maquinista do trem que descarrilou em Santiago de Compostela causando a morte de 79 pessoas havia alertado a seus superiores para a falta de segurança no trecho onde aconteceu o acidente, afirmou nesta terça-feira uma liderança sindical.
As caixas pretas revelaram nesta terça-feira que a composição circulava a 153 km/h no momento do acidente, no dia 24 de julho, em um trecho limitado a 80 km/h, confirmando a hipótese excesso de velocidade como causa da tragédia.
Alguns quilômetros antes, o trem se deslocava a 192 km/h. "Segundos antes do acidente um freio foi ativado", informou o Tribunal Superior de Justiça da Galícia após analisar o conteúdo das caixas pretas.
O acidente aconteceu numa linha de alta velocidade também utilizada por trens convencionais, mas que não está equipada com um sistema de freagem automática em caso de excesso de velocidade. O maquinista, Francisco José Garzón Amo, de 52 anos, foi acusado por "79 homicídios por imprudência".
O próprio Garzón "havia afirmado que é incrível que não se controle a velocidade nesse lugar, em que não se pode passar de 200 km/h para 80 km/h diretamente, sem uma supervisão por meio de um sistema de segurança", declarou à AFP Rafael Rico, porta-voz do sindicato de maquinistas Semaf, da Galícia.
"Os maquinistas sabem e ele mesmo havia dito ao seu superior, que não era possível aceitar algo assim. Ele disse isso no dia seguinte ao acidente, quando estava no hospital. Disse que era um lugar em que todo mundo sabia que era difícil circular", acrescentou Rico.
Diante do juiz, o condutor reconheceu, segundo a imprensa, ter tido um momento de "distração" e não ter conseguido frear, sem conseguir explicar por quê.
O conteúdo das caixas pretas revelou que, no momento do acidente, Garzón falava ao telefone com um funcionário da Renfe", a companhia ferroviária espanhola, "que parece ser um controlador", e que consultava nesse momento um mapa "ou algum documento semelhante em papel", explicou o tribunal.