Bradley Manning, o soldado americano que vazou milhares de documentos secretos para o Wikileaks, aguarda a partir desta quarta-feira sua sentença, depois de ter sido condenado na véspera por um tribunal militar por várias acusações de espionagem, mas não por ajuda ao inimigo.
Apesar de ter sido absolvido da acusação mais grave, pela qual poderia ser condenado à morte, Manning enfrenta a possibilidade de ter que cumprir uma longa pena de prisão ao ter sido declarado culpado de 20 das 22 acusações relacionadas ao vazamento de uma enorme quantidade de comunicações diplomáticas secretas, registros governamentais e registros militares para o site WikiLeaks.
A juíza militar Denise Lind anunciou que na quarta-feira serão iniciadas as audiências de sentença na base militar de Fort Meade, nas imediações de Washington, onde foi realizado o julgamento.
Se Lind decidir impor as punições mais altas permitidas para as acusações, Manning, de 25 anos, poderá ser condenado ao equivalente a uma prisão perpétua, com mais de 154 anos de pena a cumprir.
Em Londres, a organização de Julian Assange -que permanece refugiado na embaixada do Equador em Londres- ressaltou que a sentença contra Manning ilustra o "perigoso extremismo (...) da administração Obama", em uma mensagem postada no Twitter.
"Manning pode ser condenado a 136 anos de prisão pelas acusações das quais foi declarado culpado hoje. Perigoso extremismo, em matéria de segurança nacional, da administração Obama", indicou o Wikileaks.
"As condenações de Bradley Manning incluem acusações de espionagem. Um novo precedente muito grave em matéria de divulgação de informações à imprensa", acrescentou o WikiLeaks.
"Espero que haja um recurso no caso", declarou à AFP Julian Assange, que chamou a acusação de espionagem de "absurda".
Durante o julgamento, a defesa do soldado insistiu que seu cliente é "um jovem ingênuo e bem intencionado", que foi afetado pelos horrores que tinha visto no Iraque e que decidiu revelar os documentos com o objetivo de desencadear um debate público mundial.
A União Americana de Liberdades Civis (ACLU, por suas siglas em inglês), um conhecido grupo de defesa dos direitos civis, recebeu a sentença reiterando a sua preocupação com a rígida legislação antiespionagem dos Estados Unidos.
Os defensores de Manning e o Wikileaks consideram que a sentença confirma que o ex-analista da CIA Edward Snowden fez bem em fugir dos Estados Unidos. O consultor de informática, que vazou informações sobre uma ampla rede de espionagem de comunicações americana, permanece bloqueado no aeroporto de Moscou.
Manning atuava como analista de inteligência no Iraque quando enviou ao WikiLeaks um grande número de comunicações diplomáticas secretas e relatórios militares confidenciais das guerras no Iraque e no Afeganistão.
O militar admitiu ter vazado cerca de 700.000 documentos e se declarou culpado de dez acusações menores, mas negou com veemência que sua intenção fosse ajudar os inimigos dos Estados Unidos.