Meio século depois do célebre assalto ao trem pagador Glasgow-Londres, Ronald Biggs, que viveu escondido no Brasil por mais de 30 anos, não esconde seu orgulho por ter participado neste lendário roubo.
Com a aproximação do aniversário de 50 anos do assalto, que coincidirá com seus 84 anos, Ronnie Biggs avisa: "Se me perguntarem se lamento ter participado do roubo, minha resposta é não".
"Eu diria mais: estou orgulho de ter feito parte do grupo. Eu me encontrava lá, naquela noite de agosto, e isso é tudo que conta. Sou uma das poucas testemunhas - vivas ou mortas - do 'roubo do século'", comentou ainda.
Ele, no entanto, lamenta alguns fatos, em especial a morte do maquinista por causa dos ferimentos sofridos, sete anos depois.
"Ele não foi a única vítima. As pessoas que pagaram um preço elevado são as famílias de todos os envolvidos nos dois lados. Todos pagaram um preço muito alto, principalmente no caso da minha família".
Na madrugada de 8 de agosto de 1963, o condutor de um trem pagador, que realizava o percurso entre a cidade escocesa de Glasgow e a estação londrina de Euston, parou num ponto isolado à altura de Ledburn, noroeste de Londres, por causa de um sinal vermelho na ferrovia, o que não passava de um truque do bando.
Os assaltantes o golpearam, desengancharam a locomotiva e os dois primeiros vagões e descarregaram 120 sacos que continham 2,5 toneladas de dinheiro em efetivo.
Tudo isso sem que o pessoal que se encontrava nos outros vagões se desse conta do feito. Total do roubo: o equivalente a 69 milhões de dólares atuais.
Pelo roubo, nove dos 16 assaltantes foram julgados em 1964 e receberam penas de 25 a 30 anos de prisão.
O assalto foi arriscado, mas os 36 anos de fuga concederam fama a Ronald Biggs.
Em 1965, um ano depois de condenado, ele conseguiu escapar da prisão londrina de Wandsworth, e iniciou uma longa fuga pela Bélgica, França e Austrália.
Por fim, se instalou no Brasil, onde conseguiu ficar incógnito graças a documentos falsos e várias cirurgias plásticas.
Mesmo descoberto por um jornalistas, Biggs conseguiu continuar vivendo como uma verdadeira celebridade no Rio de Janeiro.
No entanto, doente e arruinado, decidiu voltar para o Reino Unido e cumprir sua pena. Biggs, que foi posto em liberdade em 2009 por motivos de saúde, vive atualmente num asilo no norte de Londres.
Obrigado a deslocar-se numa cadeira de rodas e comunicar-se por escrito, Biggs parece não ter perdido sua vocação para a provocação: no início do ano, fez um gesto obsceno para os jornalistas durante o enterro do cérebro do assalto, Bruce Reynolds.