Em uma entrevista concedida semanas depois dos atentados contra o World Trade Center e o Pentágono, em 2001, Osama bin Laden fez uma previsão aterradora. “O destino da nossa batalha não depende mais da sobrevivência de Osama ou da Al-Qaeda, já que a bandeira da jihad (guerra santa) será carregada por outros elementos – organizados ou individuais – que se unirão”, afirmou o terrorista saudita. Bin Laden morreu 10 anos mais tarde e sua organização se fragmentou, mas a ideologia permaneceu intacta e atraiu mais seguidores. “Em vez de combater uma organização com hierarquia interna e cadeia de comando, as agências de segurança ocidentais lutam contra inúmeras entidades, dotadas de estruturas amorfas jamais vistas”, alerta Aviv Oreg, ex-chefe do Departamento de Jihad Global e Al-Qaeda da inteligência militar israelense. A cada ano, 7 mil ataques extremistas deixam 9 mil mortos. Fragmentada, a Al-Qaeda volta a ser uma ameaça real, segundo os serviços de inteligência.
“A jihad mudou o formato: de uma organização única (Al-Qaeda) que conduziu a vasta maioria dos ataques letais, entre 2001 e 2006, para multiorganizações operando em todo o mundo. Um atentado poderoso e espetacular é inevitável e iminente”, acredita Oreg. Segundo ele, os elementos jihadistas tentam, a todo custo, realizar tal ataque, e a atividade contraterrorista não tem sido eficiente. “É apenas uma questão de tempo. Suspeito que os alvos tradicionais serão meios de transporte (aviões, trens e ônibus), e o modus operandi incluirá homens-bomba”, arrisca o israelense.
As novas armas da Al-Qaeda variam de explosivos sofisticados a ciberterrorismo e até recursos não convencionais, como “bombas sujas” e agentes químicos ou biológicos. “Entre os alvos preferenciais, eu citaria os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a França”, aposta Oreg.
Tensão
O inimigo sem rosto se aproveita da instabilidade política e da conivência de governos para agir quase impunemente. Muitas entidades jihadistas optaram por instalar bases de operações na Somália, na região de Sahel (periferia do Deserto do Saara), no Norte da Nigéria, no Iraque fragmentado pelas tensões sectárias, na Síria combalida pela guerra civil, na Península do Sinai e na porosa fronteira afegã-paquistanesa. Mas é das montanhas do Iêmen que vem a mais grave ameaça. Uma teleconferência interceptada colocou os serviços de inteligência em polvorosa. Ayman al-Zawahiri, que sucedeu Bin Laden, pediu a Abu Nassir al-Wuhayshi, comandante da Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA), que “faça algo” logo – referência a um atentado de grande porte. Foi o bastante para que os Estados Unidos fechassem embaixadas ao redor do mundo. As recentes fugas de centenas de militantes islâmicos no Iraque, na Indonésia e na Líbia agravaram o risco.
O francês Jean-Charles Brisard, advogado de familiares das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001, leva a ameaça a sério e lembra que a AQPA tem se mostrado o braço mais ativo e inovador da rede. “Ela vem buscando desenvolver explosivos sofisticados e miniaturizados, para evitar a detecção pelos serviços de imigração. Ao mesmo tempo, mostra-se ousada na propaganda, ao publicar a revista Inspire, a fim de atrair membros à ideologia do grupo”, disse Brisard ao Estado de Minas. Formada por membros que pertenceram à extensão saudita da unidade de operações especiais da Al-Qaeda – o corpo responsável pelas operações na arena internacional –, a AQPA é uma espécie de força motriz entre militantes extremistas do berço do islã. Por pelo menos duas vezes, a organização tentou explodir aviões comerciais em voos transatlânticos. Na véspera do Natal de 2009, enviou o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab com uma bomba escondida sob a cueca. Dez meses depois, a facção implantou explosivos dentro de cartuchos de impressora transportados por dois aviões americanos. A inteligência saudita desmantelou o complô.
De acordo com Magnus Ranstorp, expert em segurança pelo Colégio de Defesa Nacional da Suécia, o especialista em explosivos Ibrahim Hassan Al-Hashiri treinou um exército de fabricantes de bombas em técnicas para burlar medidas de segurança nos aeroportos. “A AQPA tem obsessão por derrubar aviões americanos. Ela é uma grande ameaça na região, onde ataca embaixadas e instalações petrolíferas e sequestra estrangeiros”, comenta.