Cairo – Depois de uma série de protestos contra o governo interino do Egito, no que foi chamado “Dia da Fúria” pela Irmandade Muçulmana, os partidários do presidente deposto Mohammed Morsi convocaram mais uma semana de manifestações pelo país, começando hoje. “Chamamos o povo egípcio e as forças nacionais para protestar diariamente, até que o golpe acabe”, informou o grupo islâmico em um comunicado, em alusão ao ato que derrubou o presidente em 3 de julho. Por volta das 15h em Brasília, ontem, eles anunciaram o fim dos manifestos da sexta-feira que deixaram ao menos 83 mortos e dezenas de feridos. “As manifestações acabarão com as últimas orações da noite, que serão seguidas de orações pelos mortos”, afirmou à agência France-Presse Gehad al-Haddad, porta-voz do grupo.
No início da noite, a polícia cercou a mesquita Al-Fath, no Cairo, onde estão vários militantes islâmicos partidários de Morsi. O Centro da cidade foi blindado por tanques do Exército. A violência deixou ao menos 83 mortos ontem, em todo o país. Durante todo o dia, milhares de apoiadores da Irmandade Muçulmana, movimento do qual Morsi é líder no Egito, ocuparam as principais ruas, pontes e praças do Cairo, transformando bairros inteiros em campos de batalha e desafiando o estado de emergência nacional imposto pelos militares. Os manifestantes começaram a sair das mesquitas depois das orações de sexta-feira, respondendo a convocação do grupo por um “Dia de Fúria”.
As marchas ocorreram depois de o governo interino do Egito autorizar oficialmente o uso de armas e munição letal na quinta-feira contra tentativas de depredar prédios governamentais e ataques às forças de segurança. A polícia disse que havia usado apenas balas de borracha na ação que culminou no massacre de quarta-feira. O governo egípcio instaurado pelo Exército indicou que enfrenta “um complô terrorista” da Irmandade Muçulmana, para justificar a repressão empregada, sobretudo contra manifestantes fiéis ao presidente destituído.
“O governo afirma que seus membros, as Forças Armadas, a polícia e o grande povo do Egito estão unidos para combater o complô terrorista tramado pela Irmandade Muçulmana”, segundo o comunicado do gabinete do primeiro-ministro. Frente à escalada de violência, que desperta temores de que o país – em estado de emergência e onde impera um toque de recolher noturno em várias províncias – mergulhe no caos, os Estados Unidos fizeram um novo apelo para que não seja empregada força excessiva contra os manifestantes, enquanto os europeus estudam “a adoção de medidas”.
As Nações Unidas pediram que ambas as partes usem “máxima contenção”, diante da perspectiva de ser deflagrada no Egito uma guerra civil. O massacre de quarta-feira está sendo considerado o dia mais violento na história moderna do Egito. A crise política foi iniciada em 3 de julho, com a deposição do presidente islamita Mohamed Morsi, hoje detido em local desconhecido. Depois de milhões de egípcios terem ido às ruas pedindo sua renúncia, diante do fiasco econômico, as Forças Armadas tomaram a si a tarefa de impor uma transição política no país. Vinte e oito diplomatas da União Europeia devem se encontrar em Bruxelas na segunda-feira para analisar as ações que podem ser tomadas em resposta a repressão sangrenta do governo interino do Egito contra manifestantes.
ISLÂMICOS SOLIDÁRIOS Em três países islâmicos, milhares de pessoas protestaram ontem contra o massacre durante a operação da polícia na quarta-feira. Na Tunísia, cerca de 1,5 mil pessoas fizeram manifestação pacífica na principal avenida da capital Túnis, saindo da oração do meio-dia na principal mesquita da cidade. Eles protestaram contra o governo interino, a queda de Morsi e condenaram a ação militar e a postura dos Estados Unidos em relação ao massacre. A irritação com os militares egípcios e o apoio de países do golfo Pérsico como a Arábia Saudita ao governo egípcio interino foram motivo para centenas de pessoas saírem às ruas de Amã, na Jordânia. O evento foi convocado pela Frente de Ação Islâmica, braço político jordaniano da Irmandade Muçulmana. Na Indonésia, maior país islâmico do mundo, milhares de pessoas em diversas cidades do país se manifestaram contra o governo egípcio. O presidente do país, Susilo Bambang Yudhoyono, disse que a força excessiva usada nos protestos no Egito é contra os valores democráticos e da humanidade.