A organização sem fins lucrativos Survival International, que defende os direitos dos povos indígenas ao redor do mundo, alertou nesta quarta-feira para taxas de suicídio alarmantes na pequena tribo guarani do Brasil.
"A tribo enfrenta uma taxa de suicídio pelo menos 34 vezes a média nacional devido à perda de suas terras ancestrais e a ataques constantes de homens armados", denunciou a organização sediada em Londres em um comunicado.
Os índios guaranis, cuja população total no Brasil é estimada em 46.000, têm tentado recuperar uma pequena parte de seus territórios originais, mas enfrentam a resistência violenta de fazendeiros ricos, bem como de proprietários de cultivos de soja e cana-de-açúcar.
No comunicado, a Survival destacou que, em média, ao menos um guarani cometeu suicídio por semana desde o começo deste século.
O grupo citou dados do Ministério da Saúde, segundo os quais 56 índios desta tribo cometeram suicídio no ano passado, embora tenha acrescentado que os números reais provavelmente são maiores devido à sub-notificação.
"A maioria das vítimas tem entre 15 e 29 anos, mas a vítima mais jovem tinha apenas 9 anos", destacou a organização.
"Os guaranis estão cometendo suicídio porque não têm terra. Não temos mais espaço", afirmou o índio guarani Rosalino Ortiz, citado no comunicado.
"No passado, éramos livres. Agora não somos mais livres", prosseguiu.
"A demarcação da terra guarani deveria ter sido concluída muitos anos atrás, mas o processo está paralisado", informou a Survival.
A ONG pediu ao governo brasileiro que "demarque as terras guaranis em regime de urgência" e pressionou a gigante americana do agronegócio Bunge e outras companhias "a parar de comprar cana-de-açúcar de terras guaranis".
Ativistas da causa indígena protestaram semana passada em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, contra uma reforma constitucional que estabelece a transferência do Executivo para o Legislativo da autoridade para aprovar e demarcar terras indígenas e unidades de conservação ambiental.