A crise entre o Egito e a Turquia, iniciada com a destituição do presidente islâmico Mohamed Mursi e a repressão de seus partidários, se acirrou neste sábado com a expulsão pelo Cairo do embaixador turco. Trata-se da medida diplomática mais drástica adotada pelo Egito após as declarações do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan condenando a repressão dos islamitas pelas novas autoridades egípcias.
Erdogan, um islamo-conservador próximo de Mursi e da Irmandade Muçulmana, confraria à qual pertence o presidente destituído, chamou de "golpe de Estado" a ação militar de 3 de julho que terminou com a queda e detenção do presidente. Além disso, o premiê criticou a repressão sangrenta pelas novas autoridades dos partidários do presidente destituído e a perseguição sofrida pelos membros da Irmandade Muçulmana, quase todos presos.
Quinta-feira, ele afirmou não "ter nenhum respeito por aqueles que levaram Mursi à Justiça", em referência ao julgamento iniciado em 4 de novembro do único presidente eleito democraticamente no Egito por "incitação ao assassinato" de manifestantes no final de 2012. Considerando essas declarações "uma ingerência inaceitável nos assuntos internos do Egito e uma provocação", o Ministério egípcio das Relações Exteriores convocou o embaixador turco Huseyin Avni Botsali, que foi informado que é "persona non grata" no país.
Pouco tempo depois, a Turquia declarou o embaixador do Egito, Salah ElDin, "persona non grata" e reduziu suas relações diplomáticas ao mesmo nível, como medidas de reciprocidade. O presidente turco Abdullah Gül ainda tentou apaziguar os espíritos, considerando a situação como "temporária e conjuntural", dizendo esperar que as "relações sejam retomadas".
O embaixador da Turquia no Cairo afirmou, por sua vez, que "continuará a rezar pelo bem do Egito" porque "é da maior importância para a região e para o mundo que o Egito permaneça no caminho da democracia".
As relações diplomáticas entre os dois países estão comprometidas desde a destituição e prisão pelo exército egípcio do presidente islamita Mohamed Mursi, poucos dias depois de milhões de egípcios irem às ruas para exigir sua saída.
Os manifestantes acusavam Mursi de querer islamizar a sociedade e concentrar o poder em favor da Irmandade Muçulmana, à qual pertence.
No dia seguinte à morte, oficialmente, de mais de 600 pessoas na dispersão sangrenta de manifestantes pró-Mursi no Cairo em 14 de outubro, os dois países anunciaram a convocação de seus embaixadores para consultas. O embaixador turco retornou ao Cairo no início de setembro, mas o embaixador egípcio nunca mais voltou a Ancara.
Ancara e Cairo também cancelaram manobras navais conjuntas previstas para outubro. Outros países também têm criticado as novas autoridades egípcias, sob o comando do exército. O presidente da Tunísia, Moncef Marzouki, pediu em 28 de setembro a libertação de Mursi, enquanto as relações entre Washington e Cairo também se deterioram após o golpe militar.
Washington decidiu congelar parcialmente a sua ajuda ao Egito (de 1,5 bilhão de dólares), o que fez com que o Egito procurasse "diversificar suas opções" e, recentemente, receber com grande pompa o chanceler russo para discutir determinados contratos de armas.