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Estado de Minas

Símbolo mundial na luta pela paz, Nelson Mandela morre aos 95 anos na África do Sul

Madiba não resistiu aos problemas respiratórios, herança dos 27 anos em que passou quebrando pedras e respirando poeira dentro da prisão


postado em 05/12/2013 19:51 / atualizado em 05/12/2013 20:26

Mandela estava internado desde junho deste ano em Pretoria(foto: Leon Neal/AFP-Photo)
Mandela estava internado desde junho deste ano em Pretoria (foto: Leon Neal/AFP-Photo)

Ele nasceu Rolihlahla, “o que traz problemas”, mas morre consagrado como Madiba, “o reconciliador”. Nelson Mandela faleceu nesta quinta-feira, aos 95 anos, devido a complicações trazidas por uma infecção pulmonar. O nobel da paz ficou vulnerável a problemas respiratórios depois de contrair tuberculose, herança dos 27 anos em que passou quebrando pedras na prisão por causa do apartheid na África do Sul. Ele estava internado em Pretoria de junho deste ano. O falecimento do líder da luta contra o apartheid foi confirmado pelo atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, em pronunciamento à nação.


Nos últimos meses, Madiba recebeu tratamento hospitalar várias vezes. No último dia 6 de abril, os médicos precisaram drenar fluido da área de pulmão após ele ter sido diagnosticado com pneumonia.

O ex-presidente sul-africano encarna, em todo o mundo, os valores do perdão e da reconciliação por ter tirado seu país do regime racista do apartheid e ter renunciado à vingança contra a minoria branca, que o manteve na prisão durante quase três décadas. "O perdão liberta a alma, faz desaparecer o medo. Por isso o perdão é uma arma tão potente" disse Mandela, prêmio Nobel da Paz em 1993, em uma frase, agora mítica, que explica sua visão do mundo e da humanidade e que o transformou no dirigente mais popular do século XX.

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Apesar de estar afastado da vida pública há anos, Nelson Mandela foi figura venerada além das fronteiras da África. Considerado um "ícone mundial da reconciliação" por Desmond Tutu, outra das grandes figuras da luta contra o apartheid, o ex-presidente sul-africano, que nunca pregou ideias políticas nem religiosas, traz um tipo de humanismo africano alimentado pela cultura de seu povo, os xhosas.

Madiba - o nome de seu clã e como seus compatriotas o chamam afetuosamente - nunca foi um revolucionário no estilo de Lênin ou Gandhi. Quando era jovem gostava de esporte - foi boxeador amador -, de roupas bonitas e tinha fama de sedutor. "Longe de assumir um papel divino, Mandela é, ao contrário, total e absolutamente humano, a essência do ser humano em tudo o que essa palavra pode significar", escreveu sobre ele seu compatriota Nadine Gordimer, prêmio Nobel de Literatura.

Seus atos, lembrados e venerados por seus compatriotas ao longo dos anos, acabaram criando uma espécie de culto que Mandela nunca buscou. "Um dos problemas que me preocupavam na prisão era a falsa imagem que tinha e não queria projetá-la ao mundo. Me consideravam um santo e nunca fui um", explicou uma vez a um jornalista.

Clique na imagem para ver o infográfico que conta a trajetória de Mandela(foto: Mike Hutchings/ Reuters)
Clique na imagem para ver o infográfico que conta a trajetória de Mandela (foto: Mike Hutchings/ Reuters)


Conheça a história de Nelson Mandela

Nelson Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918 na pequena cidade de Mvezo, na região de Transkei (sudeste da África do Sul) dentro do clã real dos Thembu da etnia xhosa. Seu verdadeiro nome, Rolihlahla, que significa "o que traz problemas", foi dado por seu pai, mas, na escola a professora começou a chamá-lo de Nelson, o nome que utilizou desde então.

A rebelião do jovem Mandela começou muito cedo, primeiro quando foi expulso da universidade de Fort Hare (sul) após um problema com a direção e depois, aos 22 anos, quando fugiu de sua família para evitar um casamento de conveniência.

Ao chegar em Johannesburgo, uma gigantesca metrópole mineira, Mandela toma consciência da segregação que dividia seu país. Ali conheceu Walter Sisulu, que se transformaria em um mentor e seu melhor amigo e abriu as portas do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido da maioria negra. Sua militância política o afastou de sua primeira esposa, Evelyn, mas o fez conhecer Winnie, uma enfermeira de 21 anos.

Junto a Oliver Tambo e outros jovens líderes, assumiu as rédeas do partido para lutar contra o regime branco, que tinha criado, em 1948, o conceito de apartheid, o "desenvolvimento separado das raças".

Após o relativo fracasso das campanhas de mobilização não violenta inspiradas nos métodos de Gandhi, o ANC foi considerado ilegal em 1960. Mandela foi detido em várias ocasiões, passou à clandestinidade e decidiu orientar o movimento para a luta armada. Contudo, em 1964, foi capturado e levado à ilha-prisão de Robben Island, na costa da Cidade do Cabo.

Durante anos, sob um sol escaldante, em meio a uma poeira que danificou para sempre seus pulmões, teve que quebrar pedra. Ainda assim nunca pensou em vingança e tentou, ao contrário, entender seus inimigos, aprendendo sua língua, o africâner, e apreciando seus poetas.

Libertar o opressor e o oprimido

"Sabia perfeitamente que o opressor tem que ser libertado, assim como o oprimido. Um homem que priva outro homem de sua liberdade é prisioneiro de seu ódio, está trancado atrás das grades de seus preconceitos", explica Mandela de seus anos de prisão.

Após 27 anos preso, é libertado em 1990 e começa a negociar com um regime exausto a organização de eleições universais e democráticas. Após sua eleição triunfal como presidente em 1994, foi um pregador incansável da reconciliação das raças.

Sua atividade política e seus anos na prisão nunca o permitiram ter uma vida familiar "normal", mas Nelson Mandela sempre buscou a companhia das mulheres, como demonstram seus numerosos amores e seus três casamentos.

Com Evelyn, sua primeira mulher, teve duas meninas e dois meninos e outras duas filhas com Winnie. Agora tem 17 netos e 12 bisnetos. Após se divorciar de Winnie se casou pela terceira vez em 1998, aos 80 anos, com Graça Machel.

Simbolicamente, a última aparição pública de Mandela foi diante de toda a humanidade, quando cumprimentou a multidão no dia da final da Copa do Mundo de Futebol em 2010 na África do Sul, com milhões de espectadores o acompanhando ao vivo pela televisão.

*Com agências


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