Os tributos ocorreram em vários partes do mundo, mas para a África do Sul, no entanto, a perda de seu líder mais amado ocorre no momento em que a nação, depois de ganhar reconhecimento global com o fim do apartheid, vive crescentes conflitos trabalhistas, protestos contra serviços precários, pobreza, criminalidade, desemprego e escândalos de corrupção que atingem o governo do presidente Jacob Zuma.
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Cortejo fúnebre de Mandela atravessará Pretória na quarta, quinta e sexta-feiraMadiba vai receber um funeral de Estado e será sepultado no dia 15Mandela entra para a história por negociar transição pacífica com o governo do apartheid Mandela descreveu Qunu como "o doce lar onde passei os dias mais felizes da minha infância"Soweto agradece ao ex-presidente sul-africano com emoçãoMuitos sul-africanos compareceram a cultos religiosos em homenagem ao primeiro presidente negro do país. Entre os participantes estava outro veterano da luta contra o apartheid, Desmond Tutu, ex-arcebispo anglicano da Cidade do Cabo. Ele disse que, como todos os seus compatriotas, estava “devastado” com a morte de Mandela. “Vamos lhe dar o presente de uma África do Sul unida, uma só”, disse Tutu ao celebrar missa na catedral anglicana de St. George, na Cidade do Cabo.
A ausência de Mandela tem um impacto moral para a sociedade sul-africana, que enfrenta um período de inquietações. Muitos consideram que a África do Sul atual – país mais rico do continente, mas também um dos mais desiguais do mundo – continua distante de ser a “nação do arco-íris”, com prosperidade comum e paz social, que o ex-presidente proclamou como seu ideal ao deixar a prisão, em 1990, após 27 anos de confinamento por sua oposição ao regime segregacionista. “Eu sinto como se eu tivesse perdido meu pai, alguém que cuidava de mim. Como negro sem conexões você já sai em desvantagem”, disse o segurança Joseph Nkosi, de 36 anos, que vive em Alexandra, um subúrbio de Johanesburgo. “Agora, sem Madiba (seu nome do clã), sinto que não tenho chance. Os ricos vão ficar mais ricos e simplesmente nos esquecerão. Os pobres não importam para eles. Olhe os nossos políticos, eles não têm nada a ver com Madiba.”
Porém, contrariando esse discurso, Tutu buscou afastar a ideia de que a morte de Mandela poderá reacender fantasmas da violência vista no apartheid. “Sugerir que a África do Sul poderia se acender em chamas – como alguns previram – é desacreditar os sul-africanos e o legado de Madiba”, disse o religioso, ganhador do Prêmio Nobel da Paz. “O sol vai nascer amanhã, e no dia seguinte, e no outro. Pode não parecer tão brilhante quanto ontem, mas a vida vai continuar.”