Jornal Estado de Minas

Obama e Raul Castro trocam aperto de mão histórico em homenagem a Mandela

AFP

O presidente americano, Barack Obama, apertou a mão de seu colega cubano Raul Castro durante a cerimônia em homenagem a Nelson Mandela realizada nesta terça-feira no estádio de Soweto.

Obama ofereceu este aperto de mãos histórico antes de subir na tribuna para pronunciar seu discurso, em um novo sinal de sua vontade de se aproximar de antigos inimigos dos Estados Unidos, informou uma autoridade do governo americano à AFP.

O site governista cubano Cubadebate.cu, por sua vez, saudou este aperto de mãos como um gesto de esperança.

"Obama saúda Raúl: que esta imagem seja o início do fim das agressões de Estados Unidos a Cuba", declarou abaixo de uma foto dos dois líderes.

Os Estados Unidos mantêm um embargo de cinco décadas contra o governo comunista da ilha, que Havana afirma ter custado à economia do país US$ 1,1 trilhão.

O aperto de mãos foi visto por milhares de pessoas de todo o mundo que assistiam à cerimônia em homenagem a Mandela ao vivo e ocorre num momento em que Obama tenta cumprir sua promessa de dialogar até mesmo com o mais implacável dos inimigos dos Estados Unidos, o Irã.

Em setembro, o líder americano conversou por telefone com o presidente iraniano, Hassan Rowani, no primeiro gesto deste tipo desde a revolução de 1979 na República Islâmica.

Estados Unidos e Cuba, por sua vez, mantêm relações limitadas há meio século, a maior parte deste período sob o governo do irmão de Raúl, Fidel Castro, e o destino do país comunista é um assunto amargo na política interna americana.

Cubano-americanos fortemente contrários a Castro compõem uma parcela considerável de eleitores e possíveis doadores na Flórida, um estado chave onde as eleições americanas podem ser decididas.

Como candidato presidencial, Obama foi taxado tanto de ingênuo quanto de perigoso por rivais de ambos os partidos por sugerir que, como presidente, estaria disposto a dialogar com inimigos sem pré-condições.

A habilidade de Obama em rastrear e matar Osama Bin Laden e uma série de ataques de drones o distanciaram das acusações de fraqueza em política externa e segurança, mas o presidente foi cuidadoso nesta terça-feira ao criticar líderes opressores em seu discurso, com Castro a apenas alguns metros de distância.

"Há muitos líderes que dizem se solidarizar com a luta de Madiba pela liberdade, mas não toleram a dissidência de seu próprio povo", declarou.

Não está claro se o aperto de mãos desta terça-feira contribuirá para descongelar significativamente as relações. Em 2000, o então presidente Bill Clinton apertou a mão de Fidel Castro na Assembleia Geral da ONU em Nova York.

No entanto, não foi feita nenhuma imagem do momento e a Casa Branca negou inicialmente que ele tivesse ocorrido.

Havana e Washington não mantêm relações diplomáticas desde 1961, dois anos após Fidel Castro chegar ao poder na Revolução Cubana.

Desde que Obama chegou ao poder as tensões diminuíram, e ambos os países alcançaram diversos acordos - encarados como medidas de construção de confiança - incluindo cooperação em resgate marítimo e aéreo e questões migratórias.

Em 2011 Obama flexibilizou as restrições sobre vistos, remessas e viagens.

A ação foi concebida para expandir viagens religiosas e educacionais, permitir que qualquer aeroporto ofereça voos charter para o país e restaurar iniciativas culturais suspensas pelo governo anterior, de George W. Bush.

Há negociações em andamento para retomar um serviço postal direto entre os dois países.