Sete pessoas morreram nas últimas horas em três províncias do norte da Argentina, totalizando nove mortos desde que começaram os saques e distúrbios em meio a uma greve da polícia que afeta várias províncias argentinas, informaram fontes governamentais.
As mortes aconteceram nas províncias de Chacom, Jujuy e Tucumán.
Os protestos policiais causaram temores de uma onda de violência depois de vários saques ocorridos em Córdoba (norte de Buenos Aires) há alguns dias, com um primeiro saldo de dois mortos, uma centena de feridos e 52 detidos.
Em Chaco, um jovem morreu após ser esfaqueado durante saques em Resistencia, a capital da província, enquanto um delegado morreu ao defender um supermercado, indicaram autoridades locais.
"A situação nesta madrugada fugiu do controle. Estivemos perto de um massacre", denunciou nessa terça o vice-governador Juan Carlos Bacileff, ao detalhar "a situação caótica".
"Estou preocupado com o que está acontecendo em minha província. Não posso acreditar que tivemos um apoio de 60,7% (dos votos nas eleições legislativas de 27 de outubro) e ainda sim, as pessoas se expressaram dessa maneira", declarou Jorge Capitanich, que deixou há três semanas o cargo ocupado no governo de Chaco para assumir como chefe de Gabinete da presidente Cristina Kirchner.
Em Tucumán, onde centenas de policiais continuam em greve, foram registrados violentos saques durante a noite de segunda-feira com ao menos um morto e 35 feridos, confirmados por Diego Eskenazi, diretor do hospital Zenón de Tucumán.
"Eles nos atacaram três vezes. Os saqueadores levaram televisões e eletrodomésticos. Andavam em carros e em motos, mas teve um grupo que levou os objetos roubados em dois carros", contou Ezequiel Pedrosa, gerente de um supermercado tucumano.
Em discurso por ocasião dos 30 anos do fim do regime militar, a presidente Cristina Kirchner afirmou que "estas coisas não acontecem por acaso". "Querem desgastar os valores da democracia, mas tudo o que nos falta podemos obter apenas pela via democrática, respeitando a Constituição".
"Querem instalar o medo. Me envergonha ver saques com caminhonetes 4x4", disse Kirchner em um discurso enérgico no Museu do Bicentenário, onde recebeu ex-presidentes argentinos.
A greve policial não atingiu as forças federais e agora se limita a algumas regiões.
Os governos provinciais de Córdoba, Neuquén (sul), San Juan (oeste), Catamarca (norte), Rio Negro (sul) e Chubut (sul) conseguiram evitar os protestos oferecendo aumentos que duplicam ou triplicam os salários atuais dos policiais.
Em meio à tensão, nesta terça-feira são lembradas na Argentina três décadas da restauração democrática que colocou fim à ditadura e deu início ao período mais extenso de vigência da ordem constitucional desde a declaração de independência de 1816.
O governo organizou um festival popular chamado "Democracia para sempre" na Praça de Maio, em frente ao palácio presidencial.
Em 10 de dezembro de 1983, Raúl Alfonsín (1983/89) assumiu o governo, após a ditadura (1976/83) que deixou 30.000 desaparecidos, segundo organizações.
A presidente Cristina Kirchner irá liderar um ato no Museu do Bicentenário.
Apesar da situação estar voltando ao normal na maioria dos distritos afetados pela greve, ainda há foco de protestos em Tucumán e Santa Fé, a terceira maior província do país por população.
Em Córdoba, cerca de 300 pessoas foram detidas nos últimos dias e "uma grande quantidade de eletrodomésticos roubados foi recuperado", segundo o governador José Manuel de la Sota, que assegurou que muitos saqueadores eram de classe média.
Capitanich insistiu nesta terça que os violentos atos "não estão associados a alimentos, mas foram provocados para causar destruição, com premeditação e planejamento".
Os episódios recentes lembram o ocorrido em dezembro de 2012, quando quatro pessoas morreram na cidade de Rosário, 300 km ao norte da capital, em meio a uma onda de saques que se espalhou por outras províncias.