O terceiro dia do velório de Nelson Mandela no Union Buildings, que começou com muita gente chegando bem cedo na fila para não perder a oportunidade de se despedir do ícone da luta contra o apartheid, terminou com uma multidão esperando o caixão deixar o palácio do governo sul-africano.
Algumas centenas de pessoas que esperavam o cortejo fúnebre sair por um dos portões do palácio correram em direção à uma rua paralela, quando ouviram o barulho de sirenes dos carros de polícia e perceberam que haviam sido dribladas pela segurança.
A estimativa das autoridades locais, no início do dia, era que aproximadamente 20 mil pessoas passassem hoje pelo altar onde estava o corpo de Mandela, mas a impressão era que havia mais gente.
As filas continuaram quilométricas até o final e todos queriam passar ao lado do corpo do ganhador do prêmio Nobel da Paz de 1993 e símbolo da liberdade do país. Ninguém podia tirar fotos no local, nem os fotógrafos credenciados para cobrir o evento.
A última imagem de Mandela, pelo menos até o momento, está guardada na memória das dezenas de milhares de pessoas que superaram o cansaço, o calor e a sede, em alguns casos, para prestar homenagem à contribuição de Mandela para a África do Sul e para o mundo. Coberto por uma tampa de vidro da cintura para cima, o corpo do mais conhecido sul-africano, com seu cabelo branco e aparência serena, está com uma camisa estampada no qual se destaca um verde brilhante, bem ao estilo alegre que costumava se vestir em vida.
Por um momento, no meio do dia, a polícia teve de conter um grupo que tentou forçar a passagem por um dos portões do palácio. Apesar da cena, o que mais se viu no último dia de velório foi muita emoção. Alguns não aguentaram a sensação de perder aquele que é considerado o pai da nação e saíram aos prantos, precisando ser amparados por militares.
A brasileira Isabel Kelmer, que já tinha comprado sua passagem para passear na África do Sul com a filha e a neta antes da morte de Mandela, disse que se sente privilegiada por estar vivendo esse momento histórico. Ela foi uma das que não conteve a emoção.
"Quando vi o caixão, fiquei emocionada e comecei a chorar, um choro de comoção. Os policiais começaram a me dar lenços. Foi muito bonito, ele foi um grande homem", disse, se referindo a vários militares que seguravam caixas de lenços depois que as pessoas passavam pelo caixão, para os mais emocionados enxugarem as lágrimas.
Quando a visitação pública foi encerrada e o comboio levando o corpo passou, a descontração tomou conta do local para continuar as homenagens a Mandela. Um sul-africano aproveitou o dom artístico e fez uma câmera cinematográfica com pedaços de lata, que nunca perdia o foco em Mandela. No lugar da lente, a foto do líder foi colocada. Outras pessoas tocavam violão, cantavam e dançavam. Até um policial, que fazia a guarda no portão do Union Buildings, entrou no ritmo.
O porta-voz da família de Mandela, Themba Matanzima, disse hoje que Madiba, como era chamado carinhosamente, certamente está em paz por ter recebido o adeus dos sul-africanos que tanto amou, se sacrificou e por quem estava preparado para dedicar sua vida.
No sábado, o corpo será transportado para Qunu, vilarejo onde Mandela nasceu, cresceu e vive seu clã. O enterro ocorrerá no domingo, em uma cerimônia restrita a parentes e amigos próximos.