Mikhail Khodorkovsky, de 50 anos, chegou sexta-feira em Berlim poucas horas depois de ser libertado do campo de detenção na cidade de Segezha, na região de Carelia (noroeste), onde cumpria uma pena de 14 anos de prisão. O ex-presidente do grupo Yukos, que já foi o homem mais rico da Rússia, dormiu no hotel Adlon, próximo do Portão de Brandenburgo, em frente ao qual jornalistas esperavam uma aparição. Logo cedo, Khodorkovsky pôde se encontrar com um de seus filhos.
"O filho mais velho de Mikhail Khodorkovsky, Pavel, já viu seu pai. Atualmente estão juntos em Berlim", declarou Olga Pispane, uma de suas representantes, à rádio Echo de Moscou, sem especificar o local do encontro. Ela indicou ainda que a mãe e o pai de Khodorkovsky estão "prontos para voar para Berlim para enfim vê-lo e abraça-lo". Segundo Pispane, Khodorkovsky passa bem e participará de uma coletiva de imprensa no domingo às 12H00 GMT (10H00 no horário de Brasília) na capital alemã.
Em uma entrevista divulgada pouco pela rede pública de televisão Rossia 1, Marina Khodorkovskaya, de 79 anos, declarou que não sabia o que iria acontecer nas próximas horas. "Temos suportado a dor, mas também é difícil lidar com tanta alegria", disse ela. Segundo a imprensa, a mãe do ex-magnata sofre de um câncer.
Putin, ao anunciar a concessão de clemência a seu inimigo jurado, disse que a doença de Marina motivou o pedido de indulto de Mikhail Khodorkovky. O presidente Vladimir Putin assinou na manhã de sexta-feira o indulto com efeito imediato, citando razões humanitárias. Em um breve comunicado, Khodorkovsky confirmou que havia pedido um indulto a Putin "devido a circunstâncias familiares", mas sem reconhecer sua culpa.
"No dia 12 de novembro, escrevi ao presidente russo para pedir um indulto por razões familiares, e estou feliz pelo resultado positivo. O assunto do reconhecimento de minha culpa não foi levantado", afirmou.
Livre para voltar à Rússia
A rapidez de sua libertação e sua viagem à Alemanha dão a entender, segundo alguns analistas, que o ex-magnata poderia buscar asilo em algum país. No entanto, o porta-voz do Kremlin afirmou à AFP que Khodorkovsky "é livre para voltar à Rússia". Segundo Dimitri Peskov, Khodorkovsky escreveu duas cartas ao presidente russo Vladimir Putin, uma formal pedindo o indulto e uma de caráter pessoal. O porta-voz da presidência não quis indicar se o indulto ao ex-magnata foi concedido mediante pré-condições e nem se ele terá o direito de participar da política.Khodorkovsky foi detido em 2003 e condenado em 2005 a oito anos de prisão por "fraude fiscal". Ao lado dele foi condenado seu colega Planton Lebedev.
Em 2010, ao fim de um segundo julgamento por "roubo de petróleo e lavagem de dinheiro" de 23,5 bilhões de dólares, Khodorkovsky recebeu uma pena adicional de seis anos, o que levou a condenação a 14 anos. A condenação foi posteriormente reduzida em duas ocasiões, para 11 anos, o que deixava a data de libertação do ex-presidente do grupo Yukos em agosto de 2014. O mais rebelde dos oligarcas surgidos nos anos 90, e que foi o homem mais rico da Rússia, caiu em desgraça depois da chegada de Putin ao Kremlin.
Segundo economistas e analistas políticos, o Kremlin busca com a libertação melhorar sua imagem antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em fevereiro de 2014. Ao mesmo tempo, não acreditam que a libertação vai mudar radicalmente o clima do mundo dos negócios na Rússia.