Não se sabe se algum dia haverá um outro Nelson Mandela, mas é inegável que dissidentes e movimentos de resistência se apropriaram do legado desse ícone da reconciliação, baseando-se em trajetórias políticas guiadas pela coragem e pelo sacrifício.
A birmanesa Aung San Suu Kyi, que também passou muitos anos presa, ganhou o apelido de "Mandela da Ásia". Prêmio Nobel da Paz, assim como o falecido presidente, ela se sacrificou tanto quanto o herói sul-africano, ao ficar detida, enquanto seu marido morria de câncer na Inglaterra. "A dama de Yangun" recuperou a liberdade e, hoje, é deputada em um país com um horizonte político mais promissor, embora o Exército continue no poder.
"Da minha cela, digo a vocês que nossa liberdade parece possível, porque vocês conseguiram a de vocês. O Apartheid não venceu na África do Sul e não vencerá na Palestina", acrescentou. Para boa parte da comunidade internacional, porém, não é possível comparar o tratamento dispensado pelos israelenses aos palestinos com o que aconteceu à maioria negra sul-africana durante o regime do Apartheid, de segregação racial.
Além de Aung San Suu Kyi, há um outro hipotético Mandela asiático: o primeiro-ministro do Timor Leste independente, Xanana Gusmão. Ele passou sete anos em um presídio indonésio depois de fazer campanha pela independência de metade da ilha. Em 1997, recebeu a visitade Mandela, em segredo, a sua cela em Jacarta. Ao longo de sua trajetória, Gusmão sempre disse ter sido inspirado pelo exemplo sul-africano. Atualmente, seu governo é acusado de corrupção.
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De qualquer modo, apesar das diferenças, a mensagem de Mandela, "um homem disposto a sacrificar sua liberdade, talvez sua própria vida, por suas convicções políticas", continua sendo "um modelo extremamente forte que estimula dissidentes do mundo inteiro", conclui o professor.