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Estado de Minas

Movimentos de resistência mundiais têm candidatos a 'novos Mandelas'

Prêmio Nobel da Paz chinês Liu Xiaobo é apontado por especialista como aquele que melhor encarna a figura contemporânea do líder africano


postado em 23/12/2013 18:37 / atualizado em 23/12/2013 18:52

Após as últimas homenagens a Mandela, começam as apostas sobre um possível sucessor simbólico(foto: AFP PHOTO / ALEXANDER JOE )
Após as últimas homenagens a Mandela, começam as apostas sobre um possível sucessor simbólico (foto: AFP PHOTO / ALEXANDER JOE )

Não se sabe se algum dia haverá um outro Nelson Mandela, mas é inegável que dissidentes e movimentos de resistência se apropriaram do legado desse ícone da reconciliação, baseando-se em trajetórias políticas guiadas pela coragem e pelo sacrifício.

O professor Christopher Hughes, da London School of Economics, sugere o nome do Prêmio Nobel da Paz chinês Liu Xiaobo como aquele que melhor encarna a figura contemporânea de Mandela. "Há semelhanças. Está detido, e é um prisioneiro de consciência", diz Hughes à AFP. "Mas Mandela representava, evidentemente, a maioria negra na África do Sul, enquanto que, no caso de Liu, é mais difícil dizer se representa uma maioria". "Os críticos dizem que é um intelectual e que está desconectado da vida real do povo", completou.

A birmanesa Aung San Suu Kyi, que também passou muitos anos presa, ganhou o apelido de "Mandela da Ásia". Prêmio Nobel da Paz, assim como o falecido presidente, ela se sacrificou tanto quanto o herói sul-africano, ao ficar detida, enquanto seu marido morria de câncer na Inglaterra. "A dama de Yangun" recuperou a liberdade e, hoje, é deputada em um país com um horizonte político mais promissor, embora o Exército continue no poder.

Liu Xiaobo aparece aqui em foto de 2005; dissidente continua detido(foto: CHINA OUT AFP PHOTO / FILES )
Liu Xiaobo aparece aqui em foto de 2005; dissidente continua detido (foto: CHINA OUT AFP PHOTO / FILES )
Ao sair da prisão, Mandela se transformou em um herói que transcendeu as divisões étnicas da África do Sul, mas Suu Kyi é acusada de não fazer o suficiente pela minoria muçulmana rohingya. Já os palestinos torcem para que o mundo considere Marwan Barghuti, há 11 anos preso, seu Mandela nacional. Condenado à prisão perpétua por Israel, por seu envolvimento em sangrentos ataques, Barghuti foi um dos líderes da Segunda Intifada (2000-2005). Da prisão, Barghuti escreveu uma carta, na qual lembrou as palavras de Mandela: "Nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos".

"Da minha cela, digo a vocês que nossa liberdade parece possível, porque vocês conseguiram a de vocês. O Apartheid não venceu na África do Sul e não vencerá na Palestina", acrescentou. Para boa parte da comunidade internacional, porém, não é possível comparar o tratamento dispensado pelos israelenses aos palestinos com o que aconteceu à maioria negra sul-africana durante o regime do Apartheid, de segregação racial.

Além de Aung San Suu Kyi, há um outro hipotético Mandela asiático: o primeiro-ministro do Timor Leste independente, Xanana Gusmão. Ele passou sete anos em um presídio indonésio depois de fazer campanha pela independência de metade da ilha. Em 1997, recebeu a visitade Mandela, em segredo, a sua cela em Jacarta. Ao longo de sua trajetória, Gusmão sempre disse ter sido inspirado pelo exemplo sul-africano. Atualmente, seu governo é acusado de corrupção.

Já os curdos comparam o dirigente separatista Abdullah Ocalan a Mandela, descrevendo-o como um combatente da liberdade que foi preso e classificado de terrorista pelas autoridades turcas. Mandela recebia o apelido de "Tata", ou seja, "pai", algo parecido com Ocalan, conhecido no Curdistão como "Apo" (tio). Já os turcos se referem a ele como o "bebê assassino" pelos ataques cometidos por sua organização, o PKK, e criticam as qualidades "paternais" atribuídas a ele por seus simpatizantes.

A questão é que o caso de Mandela foi diferente. O Apartheid era uma mancha na consciência da Humanidade, muito mais do que um regime de repressão - o que contribuiu, sem dúvida, para tornar sua luta uma causa internacional. Por esse motivo, a comunidade internacional "aceitou e perdoou" o fato de Mandela ter recorrido à luta armada, com atos de sabotagem que provocaram a morte de civis. Para os dissidentes e presos políticos do presente, não é tão simples assim, frisou Hughes.

De qualquer modo, apesar das diferenças, a mensagem de Mandela, "um homem disposto a sacrificar sua liberdade, talvez sua própria vida, por suas convicções políticas", continua sendo "um modelo extremamente forte que estimula dissidentes do mundo inteiro", conclui o professor.


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