O Conselho de Segurança da ONU autorizou nesta terça-feira o envio de mais 6 mil capacetes azuis para reforçar a missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (Unmiss, sigla em inglês) e proteger os civis.
Os 15 membros do Conselho aprovaram por unanimidade uma resolução que eleva o teto autorizado de efetivos militares da Unmiss de 7 mil para 12,5 mil soldados. O número de policiais será de 1,32 mil, contra os 900 atuais.
A Unmiss se tornará, assim, a terceira maior missão de manutenção de paz da ONU em número de capacetes azuis, atrás das que atuam em República Democrática do Congo e Darfur.
O reforço incluirá helicópteros de combate e transporte, e especialistas em direitos humanos, e virá de outras missões da ONU na África (RDC, Costa do Marfim, Darfur, Libéria).
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, advertiu que o envio "não acontecerá de um dia para o outro", e que a organização "não pode proteger todos os civis do país". Ele pediu aos grupos rivais o fim do conflito.
Ban também solicitou negociações entre o presidente Salva Kiir e seu rival, o ex-vice-presidente Riek Machar.
Milhares de pessoas morreram devido à violência das últimas semanas no Sudão do Sul, onde foi descoberta nesta terça-feira uma vala comum, anunciou a ONU, em meio a combates que ameaçam levar à jovem nação à guerra civil.
"Não tenho dúvida de que se tratam de milhares de mortos", afirmou o chefe da missão humanitária da ONU no país, Toby Lanzer.
Apesar dos chamados da comunidade internacional por trégua e diálogo, o governo sul-sudanês comemorou hoje uma vitória, ao recuperar a localidade estratégica de Bor, tomada pelos rebeldes há uma semana, embora restem amplas áreas fora de seu controle.
Antes, a alta comissária da ONU encarregada dos Direitos Humanos, Navi Pillay, anunciou a descoberta de uma vala comum em Bentiu, capital do estado petroleiro de Unidade, no norte do país, e sob controle rebelde.
"Descobrimos uma vala comum em Bentiu, e haveria outras duas em Juba", a capital, assinalou.
A descoberta acontece após uma escalada dos combates entre facções do Exército leais a Salva Kiir e a seu rival, Riek Machar, destituído em julho.
Testemunhas ouvidas pela AFP deram conta de uma onda de atrocidades, entre elas uma campanha de assassinatos étnicos em massa e estupros.
Navi também denunciou "execuções em massa", ataques contra indivíduos "baseados em sua origem étnica", e prisões arbitrárias registradas nos últimos 10 dias no Sudão do Sul.
A funcionária da ONU expressou preocupação com o destino de pessoas detidas em locais desconhecidos, entre elas centenas de civis, presos durante operações de busca em casas e hotéis de Juba.
Ao menos 45.000 civis sul-sudaneses se refugiaram em bases da ONU no país, entre eles 20.000 na capital, Juba, indicou a ONU nesta terça-feira.
Os combates explodiram há 10 dias, depois que o presidente Salva Kiir acusou seu ex-vice, Riek Machar, destituído por ele em julho, de tentativa de golpe de Estado.
Machar, que nega a acusação, disse hoje que está pronto para negociar com o rival.
A violência que atinge há uma semana o Sudão do Sul deixou oficialmente 500 mortos, embora os trabalhadores humanitários considerem este número inferior ao real.
O conflito já atingiu metade dos dez estados do jovem país, independente desde 2011.
A comunidade internacional, com Nações Unidas e Estados Unidos na liderança, realiza missões diplomáticas para tentar frear a escalada de violência.
Violência étnica
O conflito ganhou dimensão étnica ao colocar em campos opostos os nuer, tribo de Machar, e os dinka, etnia de Kiir.
Começam a ser divulgados relatos de violência étnica cometida pelas forças do governo e os rebeldes em todo o país.
Em uma mensagem de Natal à nação, Kiir disse que "gente inocente foi assassinada de forma gratuita", e alertou que a violência ameaça escapar do controle.
"Existe agora gente que aponta para outras pessoas por causa de sua tribo. Isso só levará a uma coisa, que é gerar nesta nação o caos", afirmou.
Dois nuers, refugiados em uma base da ONU, indicaram que foram presos com outros 250 homens por soldados sul-sudaneses, que abriram fogo contra eles em um posto da polícia em Juba, simplesmente por pertencerem à etnia de Machar.
"Para sobreviver, tivemos que nos cobrir com os cadáveres de outros (...) Não tenho muita vontade de falar sobre isso", declarou um deles à AFP.
O governo nega estar por trás de qualquer violência de cunho étnico.
Outros testemunhos apontam para a colocação em andamento de um esquema de violência de caráter étnico, como assassinatos e estupros, desde o início dos confrontos, no dia 15 de dezembro.
Em outras regiões do país, outras informações apontam para ataques dos rebeldes contra os partidários do presidente Kiir.
No estado de Jonglei, um ataque contra uma base da ONU por jovens nuers terminou com a morte de dois capacetes azuis indianos. As Nações Unidas também temem que civis dinkas, refugiados no campo, tenham sido massacrados.