O último dos 26 ativistas estrangeiros do Greenpeace anistiados pelas autoridades russas deixou o país neste domingo, mais de 100 dias depois de ter sido detido por uma ação de protesto no Ártico, e anunciou que está determinado a seguir seu combate.
"O militante polonês Tomasz Dziemianczuk partiu da Rússia, é o 26º e último estrangeiro" dos 30 membros da tripulação do barco do Greenpeace "Arctic Sunrise" que foi abordado no fim de setembro pela guarda-costeira russa em águas internacionais, anunciou a ONG em um comunicado.
"Isto marca o início de um novo capítulo na campanha para salvar o Ártico", afirmou o Greenpeace.
Os outros vinte e cinco ativistas estrangeiros detidos, entre eles a brasileira Ana Paula Maciel, saíram da Rússia entre quinta-feira e sábado.
"Estou muito feliz de voltar para casa", declarou Dziemianczuk, de 37 anos, para quem a missão pela qual foi preso foi apenas "um grande começo de nossa campanha no Ártico", segundo o comunicado do Greenpeace.
"Fomos ao Norte para realizar uma campanha contra as companhias de petróleo" e esta campanha "está longe de ter terminado", acrescentou.
Os 30 integrantes da tripulação do barco do Greenpeace "Arctic Sunrise" foram presos no fim de setembro após uma ação de protesto contra uma plataforma de petróleo no Ártico para denunciar os riscos da exploração de hidrocarbonetos na região.
Acusados em um primeiro momento de pirataria, os militantes finalmente foram acusados de vandalismo, um crime punido com até sete anos de prisão.
Após um período de detenção em Murmansk (noroeste), os membros da tripulação foram transferidos a São Petersburgo, antes de serem anistiados na semana passada por uma nova lei do Parlamento russo por ocasião do 20º aniversário da Constituição.
"A Rússia nos deve desculpas"
A brasileira Ana Paula Maciel, assim como os ativistas argentinos Camila Speziale e Hernán Pérez Orsi, que formavam parte da tripulação do barco, chegaram no sábado aos seus respectivos países, onde exigiram desculpas da Rússia e prometeram que seguirão militando.
Ana Paula, bióloga de 31 anos, anunciou em sua chegada ao aeroporto de Porto Alegre que seguirá lutando.
"Vou continuar trabalhando e navegando. Aceito este risco porque ele vale a pena. A Rússia teve que admitir que não somos piratas", declarou a bióloga de 31 anos no aeroporto Salgado Filho.
Com um cartaz pedindo "Salve o Ártico" e um urso polar e uma baleia de pelúcia nas mãos, Ana Paula revelou aos jornalistas que "foi o período mais difícil" de sua vida, mas "valeu a pena porque mostrou ao mundo a causa que defendemos".
"Não queremos atacar as empresas de petróleo, e sim o sistema do petróleo. Continuaremos lutando contra as petroleiras na Rússia, no Brasil e em qualquer outro lugar", declarou.
A argentina Camila Speziale, por sua vez, declarou ao chegar no Aeroporto Internacional de Ezeiza, 30 km ao sul de Buenos Aires, que "a Rússia deve a todos nós um pedido de desculpas, mas eu não estou aqui para fazer política. Sou uma ativista que quer defender o planeta".
A jovem militante ecologista de 21 anos chegou à Argentina junto com outro ativista, seu compatriota Hernán Pérez Orsi, de 40 anos, que seguia viagem para Mar del Plata (400 km ao sul da capital), onde reside com sua família.
Pérez Orsi afirmou à imprensa que a experiência vivida "é algo para o que ninguém está preparado".
"Você vai fazer um protesto pacífico e recebe uma agressão desproporcional e violenta. Não faz nenhum sentido. Quiseram nos usar como exemplo, como bodes expiatórios", avaliou.
Durante esta saga, que durou três meses, mais de 2,6 milhões de pessoas em todo o mundo escreveram às embaixadas russas em seus países exigindo a libertação dos ativistas, segundo o Greenpeace.
Manifestações contra a prisão dos ativistas foram realizadas nos últimos meses em mais de 150 cidades de 46 países, de acordo com a mesma fonte.