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Estado de Minas

Hollande se arrisca a desagradar esquerda com sua nova política econômica


postado em 15/01/2014 18:10

O presidente socialista francês, François Hollande, se arrisca a desagradar a esquerda com sua nova política econômica, aplaudida pelo patronato.

A imprensa francesa há tempos não dedicava tantos elogios ao chefe de Estado como nesta quarta-feira. Exercício de "alto equilibrismo", segundo o Le Parisien, presidente "liberado", segundo o Libération.

Os elogios soaram paradoxais em um momento em que Hollande, cuja impopularidade bate recordes nas pesquisas, se encontra no centro de uma tempestade midiático-política desde a revelação de sua suposta relação com a atriz Julie Gayet, de 41 anos, 18 a menos que ele.

Durante quase três horas, François Hollande explicou a 500 jornalistas seus projetos de reformas com um tom de firmeza raramente utilizado desde que assumiu o cargo, em maio de 2012, com exceção de sua defesa de uma política militar agressiva no Mali, na República Centro Africana e na Síria.

O presidente, que não consegue cumprir sua promessa de inverter a curva do desemprego, anunciou uma redução de 30 bilhões de euros nos impostos das empresas e um plano de ajustes dos gastos da administração (Estado e coletividades locais) de 50 bilhões em três anos (2014-2017).

A redução dos impostos das empresas se inclui em um "pacto de responsabilidade" com o Estado. Em contrapartida, as empresas deverão contratar um milhão de pessoas. Este pacto foi apresentado por Hollande como "o maior compromisso social há décadas".

Além das medidas anunciadas, o presidente ultrapassou os limites da esquerda francesa ao assumir uma linha "social-democrata".

"Como sempre, os socialistas no governo atuam com pragmatismo, mas nunca um presidente socialista ou um socialista no poder assumiu o fato de que seja social-democrata", disse o cientista político Stéphane Rozes.

Isso pode surpreender em outras partes, dada a aceitação há muito tempo nos países ocidentais, particularmente nos europeus, das vantagens da social-democracia, mas na França, onde a palavra social-democrata era até pouco tempo considerada um insulto pelos militantes do Partido Socialista, se trata efetivamente de uma guinada.

Críticas da esquerda radical

"Sou social-democrata? Sim, no sentido que este pacto de responsabilidade" é uma ação de "compromisso social e, portanto, social-democrata", disse Hollande.

O presidente negou, por outro lado, que "o liberalismo ganhou", como consideraram certos analistas, em razão das medidas favoráveis às empresas e comemoradas pelos grandes empresários franceses.

"É o contrário, já que é o Estado que toma a iniciativa e que atua para que possamos reforçar nosso pacto produtivo", afirmou o presidente, lembrando que sem as empresas não há "criação de emprego duradouro".

O presidente da associação empresarial francesa Medef, Pierre Gattaz, cumprimentou nesta quarta-feira "um discurso que vai em uma boa direção". "Há uma tomada de consciência da realidade na França", considerou Gattaz, que recentemente reconhecia que a esquerda no poder faz hoje o que nenhum outro governo tinha feito antes.

Com efeito, a direita francesa oscilava entre um tímido apoio e um claro incômodo, já que entre os anúncios de Hollande figuram medidas do programa de Nicolas Sarkozy, mas que este nunca aplicou quando esteve no poder, entre 2007 e 2012.

O ex-ministro conservador Bruno Le Maire declarou que não considera "incômodo em absoluto" o discurso de Hollande favorável às empresas. O dirigente do partido de direita UMP, Jean-François Copé, reconheceu que "não se pode desaprovar" a orientação tomada pelo chefe de Estado.

Ao mesmo tempo, o dirigente da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, antigo companheiro de luta de François Hollande, criticou asperamente as opções do presidente. "É a mudança de rumo para a direita mais violenta que já tinha visto por parte de um governo de esquerda desde Guy Mollet", chefe de governo em 1956 e símbolo, para alguns na França, da renúncia da esquerda a seus ideais.

As medidas anunciadas por Hollande também não deixaram seus sócios europeus indiferentes. Em Bruxelas, a Comissão disse que vão "em boa direção" e o ministro alemão de Assuntos Exteriores afirmou que são "valentes".


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