O destino dos prisioneiros e desaparecidos na guerra civil da Síria é o principal ponto a ser discutido durante o segundo dia de negociações entre o governo sírio e a oposição neste domingo, em Genebra. Os representantes do governo e da oposição se reúnem pelo segundo dia consecutivo junto com o enviado especial da ONU, o argelino Lakhdar Brahimi, na sede das Nações Unidas em Genebra.
A reunião transcorre como a da véspera, com as duas delegações sentadas em torno da mesma mesa, mas falando apenas através de Brahimi. O diplomata argelino aspira que as duas partes cheguem a um acordo para libertar ao menos as crianças, as mulheres e os idosos. "As Nações Unidas pedem, ao menos no momento, a libertação das mulheres, dos idosos e das crianças", declarou Lakhdar Brahimi no sábado, ao término da primeira reunião. "É de conhecimento que milhares de pessoas se encontram nas prisões do governo", acrescentou.
Cidade industrial, situada entre Damasco e o norte da Síria, Homs é uma cidade estratégica tanto para o regime quanto para a oposição. Frequentemente considerada como "coração" da contestação, a cidade pagou caro pela oposição ao presidente Bashar al-Assad. Os bairros rebeldes são sitiados desde junho de 2012 pelo exército que bombardeia o local regularmente.
A oposição avaliou que o pedido feito a Damasco de autorizar a entrada de ajuda humanitária é um "teste" da seriedade do regime nas negociações que ocorrem em Genebra até o final da próxima semana. "Homs é um teste: se o regime não abrir passagem para pessoas que morrem de fome, isso quer dizer que o regime quer uma solução militar e não uma solução política", disse Louai Safi, porta-voz da Coalizão de oposição e membro da delegação em Genebra.
Ao falar sobre o ritmo e o tom das negociações, Brahimi se mostrou prudente, estimando que as conversas avançam "a passos minúsculos". Até o momento, os negociadores se sentaram frente a frente, mas não se falaram diretamente. Eles negociam com o intermédio de Brahimi. "Temos sentimentos confusos", confessou Anas al-Abdé, um dos negociadores da oposição síria, na saída da reunião. "Não foi fácil para nós nos sentarmos com a delegação que representa os assassinos de Damasco", disse.
Pela primeira vez o regime sírio compartilhava do mesmo sentimento que seus detratores. "Talvez nós tenhamos que ter engolido nosso rancor, mas nós estamos aqui, pra valer, temos instruções muito claras", declarou à AFP o chefe das negociações do regime, Bachar al-Jaafari.
As negociações deveriam ter começado na sexta-feira, mas a ONU e os sírios perderam 24 horas, depois que a oposição se recusou a sentar-se à mesma mesa que o regime enquanto o governo não reconhecesse o princípio de um "órgão" de transição conforme propõe o texto adotado em 2012 durante a Conferência de Genebra I.
Regime e oposição discordam sobre a interpretação de Genebra I: os opositores de Bashar al-Assad reclamam que a adoção deste princípio implicaria necessariamente a saída do presidente do poder, cenário veementemente rejeitado por Damasco, que propõe um governo de união.
A resposta do governo sírio à recusa da oposição de se sentar à mesma mesa que o ministro Muallem não demorou a chegar. O governo sírio ameaçou fazer as malas e partir, acusando seus detratores de falta de seriedade.
Brahimi conseguiu convenceu as delegações do regime de Bachar al-Assad e da oposição a se sentarem à mesma mesa de negociações neste sábado. O primeiro ciclo de negociações deve acontecer "até o fim da semana que vem".
Na opinião de diplomatas e observadores, as chances de sucesso das negociações são mínimas enquanto houver um grande abismo entre oposição e partidários do regime. Uma parte da equação diz respeito também à capacidade dos "padrinhos" dos dois lados - Estados Unidos e Rússia - de fazerem manobras políticas nos bastidores.