O ex-presidente islamita egípcio Mohamed Mursi, deposto pelas Forças Armadas em julho passado, começou a ser julgado nesta terça-feira no Cairo por ter fugido da prisão durante a revolução de 2011.
No mesmo momento, um general da polícia e assessor do ministro do Interior foi assassinado na capital por dois homens que fugiram de moto.
O assassinato aconteceu em meio à onda de atentados jihadistas contra as forças de ordem, que reprimem violentamente toda manifestação dos partidários de Mursi desde a sua destituição e prisão, no dia 3 de julho.
Mursi e outros líderes da Irmandade Muçulmana, entre eles seu guia supremo, Mohamed Badie, se apresentaram ao juiz uniformizados e atrás das grades, segundo imagens exibidas pela televisão estatal.
O presidente deposto, aparentemente bem de saúde, escutou com ar de surpresa o nome dos 132 acusados lidos pela promotoria.
Mursi, primeiro chefe de Estado eleito democraticamente no Egito, pode ser condenado à morte caso seja considerado culpado de fuga da prisão com a cumplicidade, segundo a acusação, de membros do Hamas palestino, do Hezbollah libanês e de movimentos jihadistas.
O islamita compareceu pela primeira vez ao tribunal no dia 4 de novembro, quando chamou as quatro acusações que pesam contra ele de "julgamentos políticos" iniciados pelo poder "ilegítimo" dos autores de um "golpe de Estado".
O julgamento ocorre um dia após o anúncio do comando militar egípcio de seu apoio à candidatura à presidência de seu chefe, o marechal Abdel Fattah Al-Sissi.
Ela ocorre três anos depois da revolta popular que, em meio à Primavera Árabe, acabou com 30 anos do regime de Hosni Mubarak.
Mursi e os demais réus, entre eles dezenas de membros do Hamas e do Hezbollah julgados à revelia, são acusados de fugir da prisão, em plena revolta contra Mubarak, se aproveitando dos ataques de membros destas organizações e da Irmandade Muçulmana contra as prisões.
Vários policiais morreram e milhares de detidos fugiram nesses ataques.
Mursi, detido logo após sua deposição, deve responder por mais quatro acusações, três das quais passíveis de pena de morte.
Em sete meses, mais de 1.000 manifestantes pró-Mursi foram mortos na repressão implacável dos policiais e soldados, enquanto milhares de islamitas foram presos, incluindo quase todos os líderes da Irmandade Muçulmana, movimento ao qual Mursi pertence.
No final de dezembro, a Irmandade foi declarada uma "organização terrorista" após um ataque contra a polícia reivindicado por um grupo jihadista do Sinai, sem ligação conhecida com o movimento.
Essa península desértica se tornou desde a destituição de Mursi um cenário quase diário de ataques contra as forças de ordem, que perderam dezenas de homens em sete meses.
No sábado, o mesmo grupo jihadista, o Ansar Beit al-Maqdess, que diz se inspirar na Al-Qaeda, afirmou ter derrubado um helicóptero do Exército.
E os ataques, incluindo com carros-bomba, chegaram a atingir o Cairo, abalado por cinco explosões no último fim de semana.
A imprensa, que apoia o Exército e a Polícia, reitera a retórica da "guerra contra o terrorismo" e no sábado, por ocasião do terceiro aniversário da revolta que derrubou Hosni Mubarak do poder, milhares de egípcios se reuniram na simbólica praça Tahrir em favor de Sissi.