O consórcio encarregado da ampliação do Canal de Panamá, liderado pela construtora espanhola Sacyr, anunciou nesta sexta-feira a suspensão das obras, mas ao mesmo tempo disse ter mandado uma nova proposta de negociação à autoridade panamenha.
"À espera de um acordo que funcione para o encerramento da obra, foram suspensos os trabalhos no projeto, devido à negativa expressa da ACP (Autoridade do Canal de Panamá) de ampliar o protocolo de negociação", explicou em um comunicado o consórcio Grupo Unidos pelo Canal (GUPC), após apresentar uma nova oferta para tentar solucionar o conflito.
"O GUPC continua seus esforços para encontrar uma solução e chegar a um acordo com a ACP e entregou uma nova proposta que reúne as preocupações da ACP enquanto proporciona os fundos necessários para terminar a obra do Terceiro Jogo de Eclusas", informou.
Junto a Sacyr, participam do consórcio a empresa italiana Impreglio, a belga Jan de Nul e a panamenha Constructora Urbana. O consórcio reivindica das autoridades do Panamá os sobrecustos imprevistos no projeto por causa de supostas deficiências nos relatórios geológicos proporcionados pela ACP.
"Durante as últimas semanas tinham sido reduzido os trabalhos e agora já vimos a necessidade de suspendê-los", reconheceu um porta-voz da Sacyr.
A obra de construção de um terceiro jogo de eclusas que deve permitir a passagem de navios muito maiores, cujo avanço é de 70%, acumula um atraso de nove meses e não poderá ser inaugurada este ano, como estava previsto.
A nova data prevista é 2015, mas os construtores consideram, segundo as estimativas da seguradora Zurich, que a conclusão do projeto se atrasaria entre três e cinco anos se não houver acordo.
Por outro lado, uma fonte do Departamento de Comércio afirmou na quarta-feira que os Estados Unidos compartilham com Panamá o "desejo de completar esse projeto".
Consequências econômicas
O conflito começou no dia 30 de dezembro quando o GUPC ameaçou suspender os trabalhos se os sobrecustos não fossem pagos, ameaça que adiou em várias ocasiões.
O consórcio exige 50% a mais do contrato inicial fixado em 3,2 bilhões de dólares pelo projeto e construção das novas eclusas da fase de ampliação, o principal contrato da obra.
Na quarta-feira, o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli, criticou o consórcio, e pediu aos panamenhos para se unir em defesa da autoridade do canal.
"Eu acredito que é uma irresponsabilidade da GUP fazer isso. Não sei o que esses senhores pensavam, assinam um contrato, fazem uma licitação e depois não cumprem. É inaudito", declarou Martinelli aos jornalistas.
A crise pode ter importantes consequências para a economia panamenha porque compromete o futuro do trabalho de milhares de pessoas e poderia disparar o custo e duração das obras.
"O futuro dos trabalhadores e o que está ocorrendo com as obras é de total incerteza. Aqui há uma crise que não sabemos por onde vai se reinventar", disse à AFP, Saúl Méndez, secretário geral da Suntracs, o poderoso e beligerante sindicato da construção do Panamá.
O Canal aporta ao Panamá 960 milhões de dólares anuais, cerca de 10% das receitas fiscais totais. Estimava-se que as receitas adicionais pela ampliação subiriam no primeiro ano a 300 milhões, a 400 milhões no segundo e a 2 bilhões de dólares no terceiro.
Inaugurado em 1914 pelos Estados Unidos e devolvido ao Panamá em 1999, o canal panamenho, por onde passa 5% do comércio mundial, tem como principais clientes os Estados Unidos e a China.