Terça-feira faz um ano que novos caminhos se abriram na história da Igreja Católica. Entre surpreso e estupefato, o mundo viu, em 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI apresentar a sua renúncia – a primeira de um papa em seis séculos. Era um dia de carnaval, também dedicado a Nossa Senhora de Lourdes e aos enfermos, quando o cardeal alemão Joseph Ratzinger, hoje com 86 anos, anunciou a decisão de deixar o trono de São Pedro, a chefia da Cúria Romana e a posição de líder de 1,2 bilhão de fiéis. Pouco mais de um mês depois, em 13 de março, o conclave elegeu o argentino Jorge Mario Bergoglio, jesuíta, que escolheu o nome de Francisco e se tornou o primeiro pontífice latino-americano.
“Sem Bento XVI não teríamos Francisco”, destaca o responsável pelo programa brasileiro da Rádio Vaticano, o fluminense de Barra do Piraí padre César Augusto dos Santos. “A renúncia foi um gesto de desprendimento, de desapego ao cargo, algo muito importante nesse tempos”, conta o religioso, que estava chegando a Roma, depois de férias no Brasil, quando foi feito o anúncio oficial que “pegou todos de surpresa”. Sobre o papa Francisco, diz se tratar de um grande pastor, pessoa excelente, que gosta do contato com as pessoas e tem uma humildade sincera e verdadeira.
Em quase 12 meses houve mudanças, troca em postos importantes, realização da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro (RJ), e brasileiros ocupam lugar de destaque na estrutura da Cúria Romana. Em especial dom João Braz de Aviz, atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, que cuida das congregações religiosas e tem status de ministério, e dom Ilson de Jesus Montanari, escolhido por Francisco para secretário da Congregação para os Bispos e secretário do Colégio Cardinalício, responsável pela eleição de um novo pontífice.
Paulista de Sertãozinho, dom Ilson Montanari teve ascensão rápida no pontificado de Francisco e é considerado homem de confiança do Santo Padre. Em outubro, foi nomeado novo secretário da Congregação para os Bispos, em substituição a dom Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico no Brasil (embaixador do Vaticano) de 2002 a 2012 e recém-nomeado para a secretaria-geral do sínodo (assembleia de bispos do mundo inteiro), que, em outubro, terá como tema de discussão a família. “Dom Ilson, de 54 anos, era um oficial da Congregação para os Bispos e foi nomeado bispo rapidamente. Aliás, foi elevado à condição dupla de bispo e arcebispo”, lembra Vital. “E ele escolheu o arcebispo de Ribeirão Preto (SP), dom Moacir Silva, o arcebispo de São Paulo, cardeal dom Odilo Scherer, e o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, de quem é grande amigo”.
O jornalista afirma que o Brasil já teve outros nomes de relevância no Vaticano e cita dom Lucas Moreira Neves (1925-2002), mineiro de São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, que foi secretário da Sagrada Congregação para os Bispos e do Sagrado Colégio dos Cardeais, além de prefeito da Sagrada Congregação dos Bispos no Vaticano, atuando nos pontificados de Paulo VI (1897-1978) e João Paulo II (1920-2005); dom Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero; e dom Agnelo Rossi (1913-1995), prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos.
EXPERIÊNCIA PASTORAL
Integrante da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, afirma que se trata de um “período de transformações aceleradas e de grandes questionamentos, que exige da Igreja novos caminhos para o anúncio do evangelho. As rápidas mudanças, com muita frequência, são acompanhadas de graves crises de sentido e perdas de referência. Nesse cenário, o papa Francisco reúne as características essenciais para conduzir a barca de São Pedro, como a sólida preparação intelectual de um jesuíta, além de larga e admirável experiência pastoral. É importante destacar também a sua simplicidade, que o faz alcançar o coração de todos com suas palavras e ensinamentos”.
Segundo dom Walmor, o mundo testemunha “a simplicidade evangélica do papa, que se traduz pela proximidade, sobretudo dos que são mais pobres e sofredores. Conduzida pelo papa Francisco, a Igreja tem assumido com maior intensidade a vivência desta simplicidade evangélica”. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, acrescenta, o papa Francisco diz que é hora de se compreender e testemunhar a dimensão social da fé, como força e instrumento de uma nova ‘escuta’ prioritária dos pobres, trabalhando para respeitar o povo, de muitos rostos e necessidades. “Essa exortação apostólica traduz bem o caminho que está sendo seguido pela Igreja a partir da liderança do papa Francisco. Todos têm a consciência de que há muito para fazer, mas, certamente, percebe-se que a Igreja, assim como o papa, vem priorizando cada vez mais o diálogo com os diversos segmentos, sempre na condição de servidora dos pobres.”.