Umland: "Não acredito que haja um verdadeiro risco de uma guerra civil em grande escala, mesmo se os confrontos em Kiev possam ser considerados como um conflito de baixa intensidade. Há uma vontade comum de manter a violência em um nível controlável: as duas partes em conflito dispõem de armas de fogo, mas elas não as utilizam em grande escala.
Na maior parte do tempo, são registrados confrontos clássicos: coquetéis molotov e pedras contra bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, e todos carregam bastões. Para esvaziar completamente Maidan (a praça no centro de Kiev que é ocupada pela oposição), o presidente Yanukovytch deveria utilizar metralhadoras, mas isso seria, evidentemente, o sinal de um massacre em grande escala.
Yanukovytch não dispõe, provavelmente, o apoio necessário para adotar uma tal medida, tanto entre seus partidários quanto entre as forças de segurança. Os oligarcas não têm nenhum interesse em uma guerra civil. Eles querem uma saída da crise por meio de negociações".
AFP: As sanções europeias contra pessoas próximas ao presidente Yanukovytch, sobre as quais insistem Berlim e Varsóvia, poderiam ajudar? Umland: "As reações internacionais, muito críticas em relação ao regime, não foram eficazes até o momento presente.
O princípio de sanções não foi de fato experimentado em grande escala na Ucrânia. Estas medidas poderiam motivar as oligarquias, os ricos parlamentares e outros afortunados que apoiam Yanukovytch a repensarem seu posicionamento nesta crise.
AFP: Qual futuro a médio prazo o presidente Viktor Yanukovytch teria na Ucrânia?
"Na situação atual, ele será obrigado a fazer importantes concessões. Ele não pode mais fazer parte da solução à crise e é muito pouco provável que ele continue a desempenhar um papel de importância no plano político.
No mínimo, ele terá que renunciar a uma grande maioria de seus poderes em favor do governo e do Parlamento. Mas não é certo que ele possa continuar em seu cargo. A maioria das pessoas reunidas na praça Maïdan querem apenas uma coisa, a sua saída, e isso antes mesmo dos violentos confrontos de terça-feira. E os manifestantes se radicalizaram muito, eles escutam cada vez menos as palavras de ordem dos líderes da oposição como Vitali Klitschko ou Arseni Iatseniuk.
Eles veem que a não-violência e o pacifismo nada trouxe a eles durante semanas e não querem se contentar com uma simples reforma constitucional"..