Jornal Estado de Minas

Banho de sangue na Ucrânia, onde UE tenta estabelecer compromisso

AFP

A violência tomou conta da Ucrânia nesta quinta-feira, com pelo menos 60 mortos em Kiev, segundo a oposição, enquanto os esforços de três ministros europeus para chegar a um compromisso não surtiam resultados.

"Não há acordo no momento", as negociações estão "muito difíceis", disseram assessores do chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, ao final das negociações na companhia de seus colegas alemão, Frank-Walter Steinmeier, e polonês, Radoslaw Sikorski, com o presidente Viktor Yanukovytch e os líderes da oposição.

O número de mortos chega a 75 desde terça, anunciou nesta quinta-feira à noite o Ministério da Saúde, elevando um registro anterior de 67 vítimas.

O ministério do Interior informou a morte de três policiais nesta quinta, que se somam aos dez agentes mortos nos dois dias anteriores. Em Lviv (oeste), os corpos de dois policiais foram encontrados numa base policial queimada, anunciaram as autoridades locais.

Armados com bastões, escudos com pregos, pedras e coquetéis molotov, centenas de manifestantes radicais enfrentaram a Polícia de Choque Berkut, que revidou com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Mas, segundo testemunhas, atiradores estavam posicionados nos altos dos prédios com fuzis.

Os confrontos pararam no final da tarde, e manifestantes podiam ser vistos reforçando as barricadas no centro da cidade - comida, tapumes, pneus e garrafas vazias foram levados para serem transformados em coquetéis molotov.

Imagens exibidas por uma rede de televisão ucraniana mostram homens armados com fuzis, aparentemente integrantes das forças de segurança. Um deles abre fogo contra um alvo não identificado, no centro de Kiev.

"Os manifestantes foram mortos de maneira muito profissional por atiradores emboscados que atingiam as vítimas no coração, na cabeça ou na carótida", afirmou a médica Olga Bogomolets, entrevistada pela rede Kanal 5.

- "Cenário real" -

"O pior cenário que podíamos prever, o de uma guerra civil, infelizmente é muito real", declarou o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk.

"Foi decidido com Yanukovytch a realização de eleições presidenciais e parlamentares este ano e a formação de um governo de união nacional nos próximos dez dias para mudar a constituição até o verão" (hemisfério norte), acrescentou Tusk, sem esconder seu ceticismo.

"Mas a experiência nos mostrou que os compromissos assumidos pela administração ucraniana raramente são respeitados", ressaltou.

Os três ministros europeus, que continuam em Kiev, deram início a um novo encontro durante a noite com o presidente Yanukovytch e com os líderes da oposição.

Enquanto isso, outros ministros das Relações Exteriores da União Europeia, reunidos em Bruxelas, aumentaram a pressão, decidindo cancelar os vistos e de congelar os bens de autoridades ucranianas.

Depois que a crise na Ucrânia atingiu o auge, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente americano, Barack Obama, e o presidente russo, Vladimir Putin, conversaram por telefone para discutir uma solução que acabe com o derramamento de sangue. Os três "concordaram que é preciso encontrar uma solução política para a crise na Ucrânia o mais rápido possível", indicou o governo alemão.

A Casa Branca se disse "escandalizada" com os ataques a tiros das forças de segurança contra os manifestantes na Ucrânia, e novamente exortou o presidente Viktor Yanukovytch a retirar os policiais do centro da capital.

Enquanto especialistas consideram que a Rússia é fundamental para que a crise seja solucionada, Moscou tem mantido uma posição muito firme. O chefe de governo, Dmitri Medvedev, explicou que seu país vai cooperar apenas com um poder que não aceita ser "pisado".

O Kremlin indicou durante a tarde que vai enviar seu representante, o delegado de direitos humanos Vladimir Lukin, a pedido da Presidência ucraniana, para participar de uma mediação com os opositores.

Mais cedo, a sede do governo, próxima à Praça da Independência, foi totalmente esvaziada. O prefeito de Kiev anunciou sua saída do partido do governo para protestar contra o "banho de sangue". Doze deputados da legenda de Yanukovytch também anunciaram que estavam se desligando do Partido das Regiões, em protesto contra a violência.

O Parlamento, que pela primeira vez conseguiu formar uma maioria anti-Yanukovytch, votou durante a noite uma resolução contra as medidas de combate ao terrorismo anunciadas na véspera pelos serviços especiais e ordenando o retorno dos soldados às suas bases.

"O afastamento imediato de Yanukovytch e os processos contra ele por assassinatos em massa de civis devem ser a única exigência do povo, da oposição e da comunidade internacional", declarou o opositora presa Yulia Timochenko em declaração divulgada no site do seu partido.

A onda de contestação no país começou em novembro de 2013 após a desistência do presidente ucraniano em assinar um acordo com a União Europeia, optando por se reaproximar de Moscou.

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