Jornal Estado de Minas

Ucrânia pede ajuda financeira e Rússia questiona legitimidade de governo

Governo que foi forçado a virar as costas para a ajuda de U$ 15 bilhões da Rússia agora pede U$ 35 bilhões à comunidade intencional para reconstruir o país

AFP

População faz oração na praça da Independência em Kiev pelos mortos nos confrontos recentes no país - Foto: Baz Ratner/Reuters


A Rússia contestou nesta segunda-feira a legitimidade e os "métodos ditatoriais" das novas autoridades ucranianas, que lançaram um pedido de ajuda financeira de emergência ao Ocidente e emitiram uma ordem de prisão contra o presidente destituído Viktor Yanukovytch por "assassinato em massa".

O Parlamento deve nomear na terça-feira um primeiro-ministro e um governo de transição, em meio a discussões diplomáticas com os ocidentais em Kiev.

"Se considerarmos que pessoas que andam por Kiev com máscaras e kalachnikovs são o governo, então será difícil trabalharmos com um governo desse", declarou o primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev, em reação à chegada ao poder da oposição ucraniana no último fim de semana.

"A legitimidade de toda uma série de órgãos (na Ucrânia) cria sérias dúvidas", afirmou, citado por agências russas. "Alguns de nossos sócios ocidentais não acham isso, mas é uma espécie de aberração chamar de legítimo o que, em essência, é o resultado de uma rebelião armada", acrescentou.

Já a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reuniu-se na tarde desta segunda-feira com o presidente interino Olexandre Turchynov e visitou a Maidan, ou Praça da Independência, símbolo da contestação, para depositar flores em memória às 82 pessoas mortas durante a semana passada. O número dois da diplomacia americana, William Burns, também é esperado em Kiev na terça-feira.

Pouco antes, o ministro interino das Finanças, Yuri Kolobov, afirmou que o país precisa de 35 bilhões de dólares nos próximos dois anos e pediu ajuda aos países ocidentais. "Nós pedimos aos nossos sócios ocidentais a organização de uma grande conferência de doadores com a União Europeia, os Estados Unidos, o FMI e outros organismos financeiros internacionais", acrescentou.

Evitar a falência da Ucrânia

Esse pedido foi acolhido positivamente pelo ministro grego das Relações Exteriores, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a Presidência rotativa da União Europeia. "Precisamos evitar uma guerra civil, precisamos evitar o colapso financeiro e econômico do país, e organizar uma conferência internacional para evitar a falência da Ucrânia", declarou.

Há vários dias, os ocidentais não escondem seus temores pela integridade territorial da Ucrânia. Eles temem que a crise dos últimos meses aumente o fosso entre o leste do país, pró-russo e majoritário, e o oeste, nacionalista.

No entanto, no terreno, as regiões mais próximas de Moscou não parecem dar sinais de querer a divisão.

A Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) nomeou um enviado especial para a Ucrânia e propôs a criação de um grupo de contato internacional para administrar "este período de transição". "Não há tempo a perder" para ajudar a Ucrânia, indicou o chanceler francês Laurent Fabius, referindo-se ao risco de quebra da economia ucraniana e à necessidade de resgatar o país rapidamente. A esse respeito, "existe o que a Rússia prometeu --e é desejável que nossos parceiros e amigos russos possam continuar a contribuir" economicamente, insistiu.

A Rússia prometeu em dezembro uma ajuda de 15 bilhões de dólares.
Apesar de já ter depositado 3 bilhões, o restante da ajuda está comprometido devido às tensões entre as capitais. O ministro da Economia russo, Alexei Uliukaev, ameaçou nesta segunda-feira aumentar as tarifas alfandegárias sobre os produtos vindos da Ucrânia, caso Kiev opte por uma aproximação da União Europeia. E Moscou elevou ainda mais o tom ao denunciar nesta tarde a "repressão àqueles que não estão de acordo em várias regiões da Ucrânia, por meio de métodos ditatoriais e por vezes terroristas", acusando o governo interino de atacar os direitos da comunidade russa na Ucrânia.

Massacre de civis

Mais cedo, as autoridades anunciaram o lançamento de um mandado de prisão por "assassinatos em massa" contra o presidente deposto Yanukovytch, que era apoiado por Moscou."Uma investigação criminal foi aberta por assassinatos em massa de civis contra Yanukovytch e várias autoridades. Um mandado de busca foi expedido contra eles", anunciou o ministro do Interior interino Arsen Avakov. Cerca de cinquenta pessoas, incluindo autoridades das forças de ordem, também foram acusadas. As autoridades também adotaram medidas para impedi-las de deixar o território, indicou o procurador-geral.

Destituído pelo Parlamento e abandonado por seu próprio partido, Yanukovytch não dá sinal de vida desde sábado e pode estar escondido no leste do país. Enquanto isso, a opositora Yulia Tymoshenko, liberada da prisão no sábado, disse que irá em breve à Alemanha para fazer tratamento. Ela sofre de um problema crônico nas costas.

A oposição, agora no governo, rapidamente iniciou os trabalhos para recuperar o país. Uma eleição presidencial antecipada foi marcada para 25 de maio. As dificuldades são abissais, admitiu Olexandre Turtchynov: "Nos três últimos anos, a Ucrânia funcionou graças a empréstimos. Nenhum governo na Ucrânia trabalhou em condições tão extremas. "Desde a sua independência, a Ucrânia jamais teve uma catástrofe econômica e política como esta", considerou um dos líderes da contestação, Arseni Yatseniuk.

O banqueiro Stepan Kubiv foi nomeado para o comando do Banco Central. "Nós convidamos representantes do FMI para mantermos as negociações e abrir o novo programa de que a Ucrânia precisa hoje", declarou.

Para Lubomir Mitov, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), "a situação orçamentária é tão desesperadora que a única opção para o governo pagar as aposentadorias e os salários é emitir moeda", com o risco de acentuar a inflação e a desvalorização da moeda ucraniana.

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