O Ocidente e a Rússia tentam nesta terça-feira aplacar as tensões sobre a Ucrânia, onde as autoridades provisórias lutam para impedir o naufrágio econômico do país e negociar uma saída da crise e evitar as tentações separatistas do sul e do leste.
Após questionar na segunda-feira a legitimidade dos novos líderes ucranianos e declarar que não trabalhará com um governo nascido de uma "revolta", Moscou atenuou sua retórica nesta terça-feira.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, se declarou contrário a uma eleição presidencial antecipada para 25 de maio na Ucrânia, considerando que isto infringe o acordo assinado na semana passada em Kiev para solucionar a crise.
No entanto, Lavrov adotou um tom mais conciliador, afirmando que Moscou "deseja que a Ucrânia faça parte da família europeia, em todos os sentidos da palavra".
Já os diplomatas ocidentais expressaram nesta terça seu apoio ao novo governo, ressaltando a importância de manter os laços com a Rússia.
"Oferecemos apoio, não interferência", explicou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton. "É crucial que a Rússia, como uma vizinha importante da Ucrânia, também ofereça seu apoio para garantir que o país possa avançar da maneira que desejar", considerou.
O número dois da diplomacia americana, William Burns, chegou nesta tarde em Kiev, onde se reunirá com as novas autoridades.
A situação econômica na Ucrânia é catastrófica e sua posição política sensível, com a recusa russa de reconhecer a legitimidade do novo governo após a destituição e fuga do presidente Viktor Yanukovytch.
"Precisamos que todos os parceiros, incluindo a Rússia, ajudem a Ucrânia", defendeu o chanceler francês, Laurent Fabius.
A Rússia havia prometido em dezembro uma ajuda de 15 bilhões de dólares. Apesar de já ter depositado 3 bilhões, o restante da ajuda está comprometido devido às tensões entre as capitais.
A Ucrânia precisa de 35 bilhões de dólares nos próximos dois anos e pediu ajuda aos países ocidentais para a organização de uma grande conferência de doadores.
O pedido foi recebido positivamente pelos europeus.
"Precisamos evitar uma guerra civil, precisamos evitar o colapso financeiro e econômico do país, e organizar uma conferência internacional para evitar a falência da Ucrânia", declarou o ministro grego das Relações Exteriores, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a Presidência rotativa da União Europeia.
Crimes contra a Humanidade
Ainda nesta terça-feira, o Parlamento ucraniano votou uma resolução pedindo ao Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia que processe o presidente destituído Viktor Yanukovytch por "crimes contra a humanidade".
Destituído no sábado pelo Parlamento, Yanukovytch já é alvo de um mandado de prisão por "massacre em massa" de civis, após os confrontos que deixaram 82 mortos em Kiev na semana passada.
"O poder (derrubado) construiu um sistema baseado na corrupção e em assassinos", lançou nesta terça-feira Arseniy Yatsenyuk, um dos líderes da oposição.
"Se não houvesse o 'batalhão do céu' (apelido dado às vítimas da Praça Maidan), teria havido milhares de mortes. A única solução para este poder é o tribunal internacional em Haia", acrescentou.
Mas, sinal da dificuldade de encontrar um compromisso político também internamente, o Parlamento adiou para quinta-feira a nomeação de um governo de transição.
"A decisão deve ser tomada na quinta-feira. Não podemos esperar mais tempo", informou o presidente interino Olexander Turchynov.
"Realizem consultas noite e dia, mas tem que ser transparente", completou.
Os nomes mais citados para ocupar o cargo de primeiro-ministro é o do banqueiro e líder da contestação Arseni Yatsenyuk, do oligarca opositor Petro Porochenko e da ex-premiê Yulia Tymoshenko.
Esta última, no entanto, indicou que não disputaria o cargo e que está pronta para viajar à Alemanha para se tratar.
A campanha eleitoral para a eleição presidencial antecipada de 25 de maio começou nesta terça, de acordo com a comissão eleitora central. Os candidatos têm até 30 de março para se inscrever.
O ex-campeão de boxe, atualmente um dos líderes da oposição, Vitali Klitschko, anunciou sua candidatura, afirmando querer "restabelecer a justiça" para "mudar completamente os princípios e as regras do jogo na Ucrânia.
O governador pró-Rússia da região de Kharkiv, Mikhailo Dobkine, também se declarou candidato.
Sinais de separatismo
Há vários dias, os ocidentais não escondem seus temores pela integridade territorial da Ucrânia. Eles temem que a crise dos últimos meses aumente o fosso entre o leste do país, pró-russo e majoritário, e o oeste, nacionalista.
O presidente interino ordenou "o fim imediato das perigosas manifestações separatistas", sem citar medidas concretas.
Em Sébastopol e Simféropol, na península pró-russa da Crimeia, manifestações pró-Rússia foram organizadas nesta terça, reunindo centenas de pessoas.
No porto de Sébastopol, onde se encontra a frota russa no Mar Negro, dois blindados foram posicionados, um no território do Estado-Maior da frota russa e outro na Casa de Moscou, constataram jornalistas da AFP.
"Não vamos abandonar nossos irmãos na Ucrânia neste conflito de civilizações", advertiu Leonid Sloutski, deputado russo e chefe da comissão parlamentar para as ex-repúblicas soviéticas, que se reúne nesta terça em Simféropol, segundo agências russas.
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