Jornal Estado de Minas

Morre o cineasta francês Alain Resnais

Diretor ganhou notoriedade após "Hiroshima, meu amor" (1959) e "O ano passado em Marienbad" (1961)

AFP

Resnais morreu aos 91 em Paris - Foto: FRANCOIS GUILLOT / AFP

O cineasta francês Alain Resnais morreu na noite deste sábado, em Paris, "cercado pela família", anunciou à AFP Jean-Louis Livi, produtor de seus últimos filmes. O diretor, morto aos 91 anos, foi homenageado recentemente na 64ª edição do Festival de Berlim por seu último filme, "Aimer, boire et chanter".

"Ele estava preparando, comigo, um outro filme, do qual ele também era roteirista", afirmou Livi, que produziu os três últimos títulos de Resnais. O cineasta ganhou notoriedade após "Hiroshima, meu amor" (1959) e "O ano passado em Marienbad" (1961). Entre suas obras mais conhecidas estão "A guerra acabou", "Providence", "Smoking e no smoking" e "Ervas Daninhas".

Entre as primeiras reações a sua morte, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, saudou "um grande, grande talento, conhecido mundialmente".

Memória e imaginário

Cineasta da memória e do imaginário, Alain Resnais marcou a história do cinema francês com suas obras. Resnais trabalhou com grandes nomes da literatura - Marguerite Duras, Alain Robbe-Grille e Jorge Semprún, por exemplo - e explorou sem cessar os vínculos entre imagem e escrita renovando constantemente suas fontes de inspiração. Nascido em 3 de junho de 1922, em Vannes, filho de um farmacêutico, o jovem Resnais se apaixonou desde cedo pela literatura. Aos 13 anos rodou um curta-metragem, "Fantasmas", e após o ensino médio foi para o Instituto Francês de Estudos Cinematográficos (IDHEC), em 1943.

Ele começa a trabalhar na montagem de filmes, e logo se volta para o cinema de arte.

"Van Gogh" (1946), "Guernica" (1950), "Gauguin" (1951) e "As estátuas também morrem" (1953), recompensados em vários festivais, deram a ele uma reputação como documentarista, confirmada com "Noite e nevoeiro", que evoca os campos de morte nazistas. A riqueza narrativa e a insólita poesia de seus primeiros longa-metragens, "Hiroshima, meu amor" e "O ano passado em Marienbad", surpreenderam ao público e à crítica. "Muriel" (1962) e "A guerra terminou" (1966), reflexões sobre a memória, a guerra e o compromisso afirmam a singularidade e o talento do cineasta.

- Foto: DivulgaçãoApós dois filmes menores, "Providence" (1974) marca uma sutil meditação sobre a criação literária e foi considerada uma de suas obras-primas. Nos anos 1980, Resnais não deixou de surpreender: ele adaptou com igual maestria as teses do biólogo Henri Laborit ("Meu tio da América") e uma peça teatral de Henry Bernstein sobre educação ("A vida é um romance).

O filme em duas partes "Smoking e No Smoking" (1993), estrelado por musa, Sabine Azéma, recebeu o urso de prata em Berlim e cinco prêmios César.

Posteriormente, Alain Resnais volta a inovar com assombroso frescor criativo ao fazer uma comédia cantada ("On connaît la chanson", en 1997), e uma adaptação de uma opereta dos anos 1920, "Na boca não" (2003). Seu filme "Assuntos privados em lugares públicos", uma melancólica e onírica comédia sobre a solidão, ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza de 2006. Em 1995, Resnais já havia sido premiado com o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra.

Após três anos longe das câmeras, o diretor voltou em 2009 com "As ervas daninhas", uma reflexão sobre o desejo estrelada por Sabine Azéma e André Dussolier. Em seguida, dirigiu "Você ainda não viu nada", de 2012 e "Amar, beber e cantar", seu último filme, apresentado no Festival de Berlim em fevereiro de 2014. Casado primeiramente com Florence Malraux, filha de André Malhaux. Após sua separação, viveu, desde o final dos anos 1980, com a atriz Sabine Azéma, com quem se casou em 1998.

 

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