Moscou lançou nesta segunda-feira sua contra-ofensiva diplomática sobre a Ucrânia, prometendo aos ocidentais propostas para resolver a crise nesta ex-república soviética, enquanto a Otan enviou aviões de reconhecimento para países vizinho, a fim de supervisionar a situação.
Enquanto Kiev acusa a Rússia de agressão e pede aos Estados Unidos para interceder neste conflito sem precedentes desde o fim da Guerra Fria, o chefe da diplomacia russa, Sergueï Lavrov, anunciou que Moscou apresentará várias propostas aos países ocidentais para solucionar a crise na Ucrânia de acordo com o direito internacional.
Contudo, Lavrov não deu detalhes sobre essas propostas, mas parece descartar a criação de um grupo de contato, proposto pela chanceler alemã Angela Merkel e o presidente americano Barack Obama.
Nas propostas ocidentais, "tudo tem sido formulado no sentido de um suposto conflito entre a Rússia e a Ucrânia", disse o ministro russo, insistindo que as novas autoridades ucranianas chegaram ao poder por meio de um "golpe de Estado".
Diante deste anúncio, a Ucrânia considerou que a Rússia deve apresentar "provas concretas" de que está pronta para aceitar propostas americanas para solucionar a crise.
O secretário de Estado americano, John Kerry, lançou algumas sugestões a Lavrov, que encontrou três vezes na semana passada e com quem conversou no sábado.
Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou contra uma "retórica provocativa" e se declarou altamente alarmado pelo desenvolvimento dos eventos na Crimeia.
A Rússia não reconhece a legitimidade dos novos líderes pró-ocidentais da Ucrânia, que chegaram ao poder após três meses de protestos que levaram à fuga do presidente Viktor Yanukovytch, e ao preço de uma centena de mortos em fevereiro.
Na Crimeia, ocupada desde o final de fevereiro por forças russas, as autoridades separatistas defendem a anexação da península à Rússia, incentivados por Vladimir Putin, que ignora as advertências ocidentais.
Um referendo está sendo organizado para o dia 16 de março e o primeiro-ministro da Crimeia, Serguiï Axionov, anunciou nesta segunda-feira a preparação para a entrada da península na zona do rublo.
A transição para o rublo "resultaria em caos na Crimeia", reagiu o ministro ucraniano das Finanças, Olexandre Chlapak.
- Reforço militar russo e da Otan -
As forças russas consolidam dia após dia sua presença na Crimeia, o que torna cada vez mais difícil a possibilidade para as autoridades ucranianas recuperarem o controle da região.
Homens armados cortaram a energia elétrica do Estado-Maior da Marinha ucraniana em Sebastopol, que está cercado há vários dias, de acordo com os militares ucranianos.
A União Europeia expressou sua preocupação "com a ausência de sinais de desescalada".
"Seguimos preocupados com a ausência de sinais de redução da tensão", disse Maja Kocijancic, porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
"A situação em geral continua sendo preocupante e os recentes acontecimentos evidenciam o isolamento cada vez maior da península da Crimeia como resultado dos atos da Rússia".
Em uma reunião extraordinária na quinta-feira, os chefes de Estado e de Governo da UE pediram a Moscou que iniciasse, sem demora, um processo para reverter a escalada sob pena de "graves implicações nas relações UE-Rússia" com sanções progressivas.
Neste contexto, a Otan anunciou nesta segunda-feira o envio de aviões de reconhecimento para a Polônia e na Romênia para acompanhar a situação.
Esses voos "vão reforçar a capacidade de vigilância da situação" pela Otan e "acontecerão unicamente sobre os territórios" de países pertencentes à Aliança Atlântica, segundo uma autoridade da Otan.
"Os AWACS (Airborne Early Warning and Control Aircraft) voarão a partir de suas bases de Geilenkirchen (leste da Alemanha) e Waddington (norte da Inglaterra)", acrescentou a Aliança, informando que se trata de uma "decisão apropriada e responsável em conformidade com a decisão da Otan de intensificar nossa avaliação das implicações da crise para nossa segurança".
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, havia declarado que a crise ucraniana representava "sérias ameaças à segurança e à estabilidade da zona euro-atlântica". Ele acusou a Rússia de "violar a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, e de violar seus compromissos internacionais" ao enviar tropas à Crimeia.
Já os Estados Unidos, país mais poderoso da Otan, decidiram intensificar seus treinamentos aéreos conjuntos com a Polônia e aumentar sua participação na proteção do espaço aéreo dos países bálticos.
- Premiê ucraniano nos EUA -
O primeiro-ministro ucraniano Arseni Yatseniuk deve encontrar na quarta-feira nos Estados Unidos o presidente Barack Obama para discutir um meio de "parar a agressão russa", segundo a diplomacia ucraniana.
"A Casa Branca vai reafirmar seu forte apoio ao povo ucraniano", declarou nesta segunda o embaixador americano Geoffrey Pyatt.
Este convite ao premiê Yatseniuk é um reconhecimento do papel responsável desempenhado pelo governo de Kiev, assegurou a Casa Branca, indicando que a reunião entre os dois líderes "reforçará o fato de que os Estados Unidos acredita que o governo ucraniano tem ocupado de forma responsável o vazio deixado pela repentina saída" do presidente Yanukovytch.
A visita na quarta-feira acontecerá logo antes da realização, no domingo, do referendo na Crimeia, que decidirá se a região integrará à República da Rússia.
E o presidente destituído Viktor Yanukovytch discursará na terça-feira em Rostov-on-Don, sul da Rússia, segundo uma fonte próxima da equipe do ex-chefe de Estado citada pelas agências russas.
O ex-presidente, refugiado na Rússia desde que o Parlamento ucraniano o destituiu em 22 de fevereiro, já fez uma declaração em Rostov no dia 28 do mês passado.
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