Interesses nacionais adversos e uma coordenação caótica parecem os motivos que dificultam os trabalhos para localizar o Boeing 777 da companhia Malaysia Airlines desaparecido há quase duas semanas.
O voo MH370 que fazia o trajeto Kuala Lumpur-Pequim com 239 pessoas a bordo - incluindo dois terços de chineses - desapareceu logo após sua decolagem no sábado, dia 8 de março, às 00h41 (13h41 de sexta-feira no horário de Brasília). As buscas, até o momento mal sucedidas, foram rapidamente lançadas sobre sua trajetória, entre a Malásia e o Vietnã, sobre o Mar da China Meridional.
Domingo, dia 9, a Malásia anunciou, com base em informações de radares, que o avião teria mudado de curso após cerca de uma hora de voo, em direção ao oeste. Esta tese foi confirmada e as buscas redirecionadas. Elas agora se estendem, em um eixo norte-sul, da Ásia Central ao sul do Oceano Índico, em um perímetro de mais de 2,2 milhões de km2, maior do que o território da Austrália.
A Malásia admitiu que seus radares militares haviam, de fato, identificado a aeronave, explicando que nenhuma ação foi tomada porque ele não parecia "hostil". Uma falha com consequências potencialmente graves, já que nenhum vestígio do avião foi identificado e que sua caixa preta dispõe de apenas 30 dias em standby.
Desafios diplomáticos, técnicos e logísticos
Nesta quarta-feira, a Tailândia também reconheceu implicitamente uma falha. Seus radares detectaram um "avião não identificado" que mudou várias vezes de direção no momento do desaparecimento do voo MH370, segundo o porta-voz da Aeronáutica do país, Monthon Suchookorn. "A aeronave voou para o sul, em direção a Kuala Lumpur e o estreito de Malacca, antes de seguir para o norte", em direção ao Mar de Andamão, a oeste da península malaia, indicou.
Questionado sobre o motivo dessas informações terem sido reveladas apenas 10 dias após o desaparecimento, o porta-voz afirmou que "a aeronave não estava no espaço aéreo tailandês nem era uma ameaça para a Tailândia". "Nenhum país não vai divulgar informações que expõem os limites de suas capacidades" tecnológicas ou militares, acredita Paul Yap, professor de aeronáutica na Universidade Temasek Polytechnic de Cingapura.
Observando os "desafios diplomáticos, técnicos e logísticos" da operação, a Malásia decidiu delegar parte de seu controle operacional.
A Austrália e a Indonésia são, portanto, responsáveis pelas buscas na zona sul, e a China e o Cazaquistão pela zona norte.
A Indonésia também precisou imobilizar cinco navios da Marinha no Estreito de Malaca, "à espera de informações da Malásia ou de outros locais".
"Esperamos as ordens"
A Índia também suspendeu suas buscas no mar de Andamão. "Não cabe a nós agir por conta própria. Este é um assunto que diz respeito a governos. Estamos à espera de ordens", declarou à AFP uma fonte do Ministério da Defesa indiano. Enquanto as investigações entram em seu 12º dia, os elementos confirmados são raros, por vezes contraditórios, o que parece ser um dos grandes inimigos da aviação moderna.
De acordo com autoridades da Malásia, a aeronave desviou de seu plano de voo original após uma manobra "intencional" cometida por pessoas no comando do avião, e voo por mais cerca de sete horas.
A Polícia das Maldivas anunciou nesta quarta-feira que examina os testemunhos de pessoas que viram "um grande avião voando a baixa altitude" no dia do desaparecimento do voo MH370. As testemunhas citadas pelo site Haveeru afirmam ter visto um avião branco com listras vermelhas se movendo em direção ao extremo sul do arquipélago. "Nós já vimos hidroaviões, mas esse não era um deles. Eu poderia até mesmo distinguir claramente as suas portas", declarou uma testemunha.
Várias pistas falsas já foram exploradas após esses testemunhos e as Maldivas, localizadas fora das áreas de busca, não fazem parte dos países em causa. Com a paciência em seu limite, parentes de passageiros chineses criticaram a Malaysia Airlines, acusada de opacidade e incompetência. "Seu comportamento e mentiras, são uma atitude vergonhosa", afirmou um homem a um funcionário da empresa que veio para atender as famílias dos desaparecidos em um hotel de Pequim..