Milhares de chilenos contabilizavam nesta quarta-feira os danos causados no norte do Chile, na volta para casa depois de terem sido retirados devido a um alerta de tsunami declarado após um terremoto de 8,2 graus na escala Richter que deixou seis mortos.
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, decretou zona de catástrofe nas regiões de Arica e Tarapacá, no norte do país, as mais atingidas pelo terremoto seguido de um tsunami de baixa intensidade. Ela chegou durante a manhã a Iquique para supervisionar a situação e visitar as zonas afetadas.
Mais cedo, ao amanhecer, o governo já havia cancelado o alerta de tsunami que manteve 972.000 pessoas fora de suas residências ao longo de 4.329 quilômetros de litoral. Em Iquique, cidade mais próxima do epicentro do tremor, e na localidade de Alto Hospicio cinco homens e uma mulher morreram. No sul do Peru, nove pessoas ficaram feridas e algumas casas sofreram danos.
"O terremoto foi bastante violento, o mais complicado foi passar a noite. Felizmente, as famílias estavam reunidas e isso favoreceu uma retirada eficiente", declarou Cristián Martínez ao canal 13, enquanto se dirigia para um colégio de Iquique do qual é diretor para constatar os danos. Em Iquique, imagens da televisão chilena mostravam nesta quarta-feira telhas caídas, janelas quebradas e estantes e mercadorias no chão das lojas.
Por ser um dos países com maior atividade sísmica do mundo ao se localizar em uma falha geológica, o Chile conta com altos padrões em construção antissísmica, e treina periodicamente sua população com simulações. "Todo o Chile aprendeu com os diferentes desastres. Cada um deles vai deixando alguns aprendizados", declarou o ministro de Obras Públicas, Alberto Undurraga.
Ao meio-dia começaram a ser retomados os voos às três capitais do norte: Antofagasta, Iquique e Arica. Eles haviam sido cancelados durante o alerta de tsunami, informou a Direção Geral de Aeronáutica Civil. No entanto, as estradas de acesso a Iquique estavam obstruídas por desabamentos. No porto da cidade, quase 80 embarcações ficaram avariadas e outras foram arrastadas, indicaram pescadores. "Com essa catástrofe, não podemos fazer nada, ficamos parados e esperamos a ajuda para recuperar nossas embarcações", disse Eddy Varas, um dos pescadores.
O mar avançou quase 200 metros, segundo o governo de Iquique, e inundou avenidas. O terremoto aconteceu às 20h46 (horário de Brasília) de terça-feira e durou dois minutos.
O epicentro do terremoto foi localizado no mar, 89 km ao sudoeste de Cuya, em Iquique, com uma profundidade de 38,9 km, segundo o Centro Sismológico Nacional da Universidade do Chile.
"Zona de catástrofe"
O pânico foi sentido imediatamente. "As lâmpadas nas ruas explodiram, as pessoas saíram correndo desesperadas. Depois do terremoto, várias réplicas aconteceram", declarou à AFP Verónica Castillo, moradora da cidade de Arica.
Alertas de tsunami também foram emitidos na noite de terça em Peru, Equador e Honduras. A estatal chilena Codelco, a maior produtora mundial de cobre, informou que havia retirado os funcionários de parte das instalações de processamento costeiras. Mas nenhuma unidade sofreu danos até o momento.
Desta vez, Bachelet adotou imediatamente a decisão de decretar zona de catástrofe e enviar as Forças Armadas para a região afetada, com o objetivo de manter a ordem e a segurança, e evitar assim possíveis saques, como aconteceu depois do terremoto de 2010. Naquele ano, o Chile sofreu um tremor de 8,8 graus de magnitude seguido por um tsunami no centro-sul do país. A tragédia deixou mais de 500 mortos e provocou danos de 30 bilhões de dólares, além de cenas de caos, com vários dias de saque. Na época, o governo de Bachelet, que encerrava o primeiro mandato como presidente, descartou um alerta de tsunami devido a informações técnicas equivocadas. Muitas pessoas retornaram para casa e morreram arrastadas pelas ondas.
Até agora foram registrados 20 tremores secundários e as autoridades advertiram para a possibilidade de novos fenômenos nos próximos dias. Há anos os sismólogos advertiam sobre um eventual terremoto na região norte do país, pelo acúmulo de energia durante um longo período. Nas últimas semanas, vários tremores vinham sendo registrados na região.