Jornal Estado de Minas

Maioria dos iraquianos desafia violência para eleger Parlamento

Ataques um dia antes que deixaram dezenas de mortos não intimidou a população, que compareceu em bom número para o pleito

AFP

Iraquianas votam, na cidade de Najaf - Foto: Ahmad Mousa/Reuters


Os iraquianos desafiaram nesta quarta-feira a violência para eleger seu Parlamento nas primeiras eleições legislativas desde a retirada das tropas dos Estados Unidos, com o primeiro-ministro Nuri al-Maliki como grande favorito.

Cerca de 60% dos 20 milhões de eleitores registrados votaram, anunciou a comissão eleitoral durante a noite. Os altos níveis de violência horas antes da votação suscitava temores de uma alta taxa de abstenção. Não era impossível indicar uma taxa mais precisa na ausência de informações sobre a participação em algumas regiões do país, classificadas de "sensíveis".

O chefe da diplomacia americana, John Kerry, parabenizou os milhões de iraquianos que "corajosamente votaram", considerando que eles "enviaram uma poderosa mensagem aos extremistas violentos que tentam sabotar os progressos e a democracia e semear a discórdia".O enviado especial da ONU ao Iraque, Nickolay Mladenov, também saudou o povo iraquiano, que "mostrou determinação em exercer seu direito de voto".

Não há uma data oficial para o anúncio dos resultados, que deve levar semanas. Os centros de votação, abertos das 07h00 locais às 18h00 (01h00 às 12h00 de Brasília), foram submetidos a um rígido controle durante todo o dia para evitar qualquer risco de atentado. Mas nem o imponente esquema de segurança impediu os ataques, que deixaram pelo menos 14 mortos e 36 feridos. As autoridades registraram mais de 50, principalmente contra eleitores e colégios eleitorais.

Estas são as primeiras eleições no Iraque desde a saída das tropas dos Estados Unidos, em 2011.

'Por um futuro melhor'

Isso não impediu os iraquianos de votar, como Abu Achraf, de 67 anos. Esse contador aposentado, que vive no oeste de Bagdá, quer "tirar do poder a maior parte dos políticos, porque eles não fizeram nada, a não ser brigar entre si por anos". Apoiando-se em muletas, Jawad Said Kamaleddine, de 91 anos, depositou seu voto na urna com a esperança de que "todos os políticos mudem."

"São todos ladrões", completou.

Maliki, que tenta chegar ao terceiro mandato como primeiro-ministro, votou no início da manhã em um hotel na "zona verde" de Bagdá, uma área com grande sistema de segurança que abriga, entre outros, o Parlamento iraquiano e a embaixada americana.
À frente do governo desde 2006, Maliki é o grande favorito, apesar das críticas à política de combate ao desemprego e à corrupção, ou ainda à baixa qualidade serviços públicos, em um país mergulhado na violência que provoca, em média, 25 mortes por dia.

"Se não viermos votar, para quem vamos deixar o poder? Aos inimigos?", disse Um Jabbar, depois de votar no partido de Maliki na cidade sagrada xiita de Najaf. Em seu primeiro mandato, entre 2006 e 2010, Maliki conseguiu diminuir a violência, mas o segundo período de governo foi marcado pelo aumento dos confrontos e atentados.

As tensões entre xiitas e sunitas são profundas no Iraque e se tornaram um argumento político, utilizado pelo primeiro-ministro xiita e pelos jihadistas sunitas. A espiral de violência colocou a questão da segurança no centro dos debates, razão pela qual Maliki e seu partido, a Aliança para o Estado de Direito, basearam a campanha na necessidade de união em apoio ao governo para acabar com o banho de sangue.

De acordo com uma regra tácita, o posto de primeiro-ministro fica com um xiita, os curdos assumem a Presidência e os sunitas mantêm a liderança do Parlamento. A coalizão de Maliki, a Aliança para o Estado de Direito, tem boas chances de obter a maior parte dos 328 assentos em disputa. Mas não deve conseguir formar uma maioria clara, o que possibilita a outros partidos xiitas desafiar o poder no centro e no sul do país.

As negociações para formar um governo podem levar meses. Em 2010, as eleições, foram realizadas em março e o governo tomou posse apenas em dezembro.

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