O Vaticano insistiu nesta terça-feira em seu "compromisso total" com a luta contra casos de pedofilia na Igreja, manifestando a uma comissão das Nações Unidas em Genebra sua determinação de erradicar esses abusos.
"Uma análise séria da realidade sobre o que a Santa Sé e os religiosos locais fazem demonstra claramente e sem ambiguidades que não há, com certeza, qualquer impunidade", garantiu o representante do Vaticano na ONU, monsenhor Silvano Tomasi, que concedeu essas declarações à Comissão da ONU contra a Tortura.
Esse comitê das Nações Unidas também examina os casos de abuso infantil.
Tomasi disse ainda que, nos últimos dez anos, foram examinados 3.420 casos baseados em "acusações críveis", referentes a abusos cometidos por religiosos entre os anos 1950 e 1980.
Outros 2.572 foram "orientados" a "viver uma vida de orações e penitência" nos monastérios, por exemplo - declarou o núncio apostólico, acrescentando que esses religiosos foram colocados em um contexto sem acesso a menores.
A ONU e vários grupos de defesa de vítimas acusam o Vaticano de minimizar os abusos sexuais cometidos por padres, tentar esconder a realidade, destruir as provas e intimidar testemunhas, em vez de destituir os responsáveis e levá-los à Justiça.
- Igreja apresenta relatório na ONU -
Na segunda-feira, o Vaticano apresentou seu primeiro relatório na Comissão da ONU contra a Tortura, uma tarefa à qual devem se submeter todos os signatários da Convenção contra a Tortura de 1984.
A Santa Sé assinou a Convenção Internacional em 2002, mas esta foi a primeira vez que apresentou um informe a esse comitê da ONU, com sede em Genebra.
O relatório do Vaticano sobre a tortura foi apresentado após a divulgação das conclusões do comitê da ONU sobre os direitos das crianças. Segundo o documento publicado em janeiro passado, a Santa Sé não adotou as medidas necessárias para tratar dos casos de menores abusados sexualmente por padres.
Os especialistas da ONU exigiram do Vaticano a publicação das medidas adotadas contra os religiosos acusados de abuso sexual e a garantia de que seriam suspensos de suas funções.
Em 3 de maio, uma comissão de especialistas para a proteção infantil nas instituições da Igreja, criada pelo papa Francisco, anunciou que seriam instaurados "procedimentos eficazes" na Igreja para a punição de padres pedófilos. Nenhuma medida jurídica vinculante chegou a ser proposta.
Em abril, o papa Francisco pediu "perdão" pelos crimes pedófilos e exigiu sanções "muito severas".
Em Genebra, o monsenhor Tomasi alegou que a Convenção tem a autoridade sobre o território da Santa Sé, "e não sobre todos os integrantes da Igreja Católica".
A jurista americana Felice Gaer, relatora da Comissão da ONU, rejeitou a lógica de Tomasi, alegando que todos os representantes e funcionários de um Estado - mesmo fora das fronteiras do país - estão sujeitos às leis nacionais.
Barbara Blaine, presidente de uma ONG que representa cerca de 18 mil vítimas de abusos cometidos por religiosos, também manifestou sua insatisfação com as declarações do representante do papa.
"Tomasi descreveu o que deveria acontecer segundo a política do clero, mas o que acontece, atualmente, é muito, muito diferente", criticou Barbara, em conversa com a AFP.
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