(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Confira a entrevista com Ramaa Mosley, criadora da campanha #BringBackOurGirls

Cineasta norte-americana organizou a campanha virtual que mobiliza milhares de pessoas nas redes sociais pelo resgate das estudantes sequestradas por extremistas na Nigéria


postado em 11/05/2014 07:08 / atualizado em 11/05/2014 07:20

"Este fim de semana é Dia das Mães em muitos lugares do mundo, e temos de honrar as mães de Chibak" - Ramaa Mosley (foto: Angela Weiss/Getty Images/AFP)
Brasília – Foi ouvindo o rádio que a cineasta norte-americana Ramaa Mosley teve um estalo que a levou a organizar a campanha virtual que já mobilizou milhares de pessoas pelo resgate das 276 estudantes sequestradas pelo grupo extremista Boko Haram na Nigéria. Ramaa, que participa de uma campanha global pela educação de garotas e codirigiu o documentário Girl rising (Menina em ascensão, em tradução livre), foi uma das responsáveis por inundar as redes sociais com a hashtag #BringBackOurGirls (tragam nossas garotas de volta). Em entrevista ao Estado de Minas, ela conta como surgiu a iniciativa que ganhou a adesão de pessoas como a primeira-dama dos EUA e Malala Yousafzai, estudante paquistanesa alvo de um atentado do Talibã por defender o direito de educação para meninas.

O que a motivou a trabalhar na campanha?

Eu ouvi a história do sequestro no rádio em 23 de abril e fiquei com o coração partido. Mal pude acreditar que isso era verdade. Eu telefonei para o pessoal do Girl rising, que é uma fundação da qual eu participo e dá nome ao filme que codirigi, e pedi para que o grupo se envolvesse. Disse que precisávamos dizer às pessoas o que estava acontecendo. Eles estavam em um momento de transição e não puderam se engajar naquele momento, então, eu comecei a escrever para amigos e perguntar se eles não sabiam de alguém que estava em Chibak (cidade nigeriana onde ocorreu o rapto) e que pudesse me ajudar a ir para lá ajudar na busca pelas garotas, fazer algum tipo de vídeo ou entrevistas. Eu imaginei que, se as pessoas vissem imagens das estudantes, talvez os americanos se envolvessem. Quando minha filha descobriu que eu estava tentado ir para lá, ficou desesperada e me implorou para não ir. Então, eu decidi que precisava fazer algo daqui mesmo, dos Estados Unidos.

Qual foi a estratégia para espalhar a hashtag #BringBackOurGirls?

Oby Ezekwesili (vice-presidente do Banco Mundial para a África e ex-ministra da Educação da Nigéria) estava falando a um grupo de pessoas na Nigéria, pedindo que trouxessem as meninas de volta. A primeira pessoa que tuitou #BringBackOurGirls foi Ibrahim Abdullahi (ex-ministro da Justiça da Nigéria) e uma porção de nigerianos o seguiu. Eu vi isso e retuitei a frase para todos que eu conhecia. Tuitei também para o presidente Barack Obama, para o John Kerry (secretário de Estado), para a Casa Branca, para a Oprah (Winfrey, apresentadora de tevê) e outras celebridades. Como eu não encontrava nenhuma informação sobre como as pessoas poderiam ajudar, eu comecei uma página no Facebook com o mesmo nome para compartilhar informações. Essa foi a primeira fase: dar às pessoas ideias e ferramentas sobre o que elas poderiam fazer. Eu criei uma lista das coisas que eu tinha feito e sugeria: escreva e ligue para o seu governo, faça protestos e conte a todos os seus amigos sobre essa notícia. Nesse momento, o caso ainda não tinha chegado ao noticiário, e as primeiras pessoas que começaram a seguir a página foram americanos de origem nigeriana que buscavam por informações com credibilidade sobre o que estava acontecendo.

Como a campanha virtual migrou para as ruas?

Comecei a receber dezenas de e-mails de pessoas em cidades como Chicago e Berlim que queriam saber sobre protestos. Eventualmente, a campanha começou a se espalhar, e eu pedi a meus amigos que mudassem a foto de seus perfis para a imagem que diz #BringBackOurGirls. Finalmente, o noticiário americano e europeu começou a prestar atenção. Na quinta-feira (24/4), nos reunimos em frente ao prédio do governo de Los Angeles. Eu costumo dizer que não importa quantas pessoas estão lá e, sim, que elas estão lá. Surpreendentemente, a atriz Anne Hathaway se uniu a nós e a voz dela era a mais alta de todas. Para mim, as mídias sociais foram uma forma de levantar um alerta sobre essas estudantes e a importância de resgatá-las. Uma voz tem poder de falar para o mundo por meio das mídias sociais.

Quão longe você acredita que a pressão da hashtag pode chegar?


Eu sei que a campanha tocou as pessoas e chegou às famílias na Nigéria. Eles sabem que estamos aqui para eles e não estamos ignorando essa história. Nós estamos trabalhando contra o relógio para fazer qualquer esforço para ajudar nossa comunidade global a se unir e pressionar nossos governos, para dizer que isso não é aceitável ou não pode ser ignorado. Essas meninas têm de ser resgatadas, e têm de ser resgatadas agora.

Histórias como a do sequestro das jovens nigerianas e da estudante paquistanesa Malala Yousafzai têm tocado o mundo. Essas histórias são suficientes para trazer mudanças em países do Oriente Médio e da África onde ainda há barreiras na educação, especialmente para garotas?

Sim. Você pode resolver todos os problemas do mundo educando uma menina. Isso foi o que descobrimos no Girl rising. Se você educar uma menina, ela vai ter filhos e vai educar suas próprias meninas e sua comunidade. Ela vai ajudar a quebrar o ciclo de pobreza. É essencial que meninas sejam educadas, e, por muito tempo, isso não foi valorizado.

Como lidar com grupos violentos como o Boko Haram e o Talibã e fornecer educação a essas meninas?

Eu não sou uma estrategista de guerra, mas minha visão é que temos de ir a países onde há uma pobreza imensa e estabelecer escolas. Esse é o nosso dever como países de primeiro e segundo mundo: ajudar a estabelecer escolas seguras. Fazendo isso, eu acredito, vamos erradicar o terrorismo. Opressão só pode acontecer no escuro, quando as pessoas são incapazes ou têm medo de falar. Uma vez que você educa uma menina, ela vai falar para os outros e vai falar alto. Ela será capaz de erradicar o terrorismo. É como ocorreu com Malala. Ela falou para o mundo. Ela é uma revolução, é uma força. Meninas não são objetos, você não pode vendê-las. É inaceitável. Meninas têm mente e coração. O que está no coração delas pode mudar o mundo, e é por isso que precisamos educar as pessoas sobre a importância de educá-las. O primeiro ponto em combater o terrorismo é criar escolar e assegurar que elas serão seguras para que a próxima geração não se torne terrorista. O terrorismo se instala em lugares com extrema pobreza e corrupção, onde não há outra escolha.

Como a senhora avalia os esforços internacionais nesse sentido?

Não temos feito o suficiente. Não fizemos quase nada ainda. Os líderes mundiais precisam se envolver. Eu quero ver ação. Tenho ouvido sobre países oferecendo ajuda para a Nigéria e quero ver isso acontecer. Nesse momento, eu não vou ficar satisfeita até que todas as quase 300 meninas que foram sequestradas tenham retornado e o Boko Haram tenha sido levado à Justiça. Todos os dias, as pessoas me pedem permissão para fazer uma manifestação e eu digo: dê permissão a você mesmo. É o seu direito protestar e usar sua voz. Por favor, diga às pessoas do seu país que façam o mesmo. Este fim de semana é Dia das Mães em muitos lugares do mundo, e temos de honrar as mães de Chibak.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)