A atriz iraniana Leila Hatami, membro do júri em Cannes, desculpou-se nesta sexta-feira por ter cumprimentado o presidente do festival, Gilles Jacob, com beijo no rosto, um gesto considerado "inadequado" pelas autoridades da República Islâmica, informou a agência iraniana de notícias Irna.
Leila provocou a ira de religiosos e conservadores iranianos, ao beijar o presidente do festival na cerimônia da noite de abertura.
Em carta enviada à Organização do Cinema Iraniano, ela disse "realmente sentir muito por ter chocado a sensibilidade de alguns e por esse incidente", acrescentou a Irna.
Na carta, ela garante "sempre tentar respeitar as regras".
Gilles Jacob, de 83 anos, desonerou a atriz de qualquer culpa no episódio, garantindo que foi ele que a cumprimentou. "Um hábito comum no Ocidente", alegou.
Segundo a atriz, a carta é uma explicação aos "que não podem compreender a situação", em que ela se encontrou naquela noite.
O vice-ministro da Cultura, Hossein Nushabadi, considerou que os iranianos que participam de eventos internacionais "deveriam levar em conta a credibilidade e a castidade dos iranianos para não mostrar uma imagem ruim das iranianas".
Segundo a lei islâmica, em vigor no país desde a Revolução de 1979, uma mulher não pode ter contato físico com um homem estranho à sua família. De acordo com o "site" do guia supremo iraniano (www.leader.ir), aiatolá Ali Khamenei, é permitido, porém, apertar a mão de um não-muçulmano - desde que de luvas e sem fazer pressão durante o cumprimento.
Estudantes iranianas anunciaram na quarta-feira ter apresentado uma queixa contra a atriz, informou o "site" de notícias Tasnimnews. As estudantes disseram que seu gesto voluntário era um pecado e que feria o sentimento religioso. O grupo pediu que a atriz seja condenada a chibatadas e a cumprir uma pena de prisão.
Nascida em Teerã em uma família de cineastas, Leila Hatami ganhou notoriedade mundial com o filme "Separação", de Asghar Farhadi. A obra ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2011 e o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte.
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