“Esta campanha é atípica. Muito morna no começo e muito competitiva nas últimas semanas devido aos escândalos e manipulações de denúncias. Com o voto não obrigatório, o eleitor tem de ser motivado. Vimos o contrário, pouco debate de ideias e o denuncismo que afastou parte do eleitorado”, disse à Agência Brasil o analista político colombiano Jorge Restrepo.
Para ele, houve excesso na exploração de acusações entre as partes, tanto por parte do presidente Juan Manuel Santos, que tenta a reeleição, quanto por Oscar Zuluaga, partido criado por Álvaro Uribe. “Só no último debate , vimos menos troca-troca de acusações e ouvimos mais propostas”, opinou.
Santos foi acusado de ter recebido dinheiro do narcotráfico e Zuluaga de ter espionado o processo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Nas ruas de Bogotá, a Agência Brasil conversou com eleitores.
A dona de casa Luzmaría Benevides informou que não vai votar porque está descrente da política. “Agora não quero votar, porque são todos uns corruptos. Mas, talvez no segundo turno, se eles pararem de brigar e se preocuparem em nos convencer”, comentou.
A tendência de abstenção para estas eleições foi observada ontem (24) pela Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acompanha o processo. Em comunicado, a missão informou ter observado pouca participação nos 64 consulados colombianos para o voto no exterior. Fora do país, a votação foi iniciada na última segunda-feira (19) e será finalizada hoje.
Segundo a missão, até ontem (24) o movimento nos consulados era pequeno. Mais de 500 mil colombianos foram registrados para votar no exterior. Com a apatia e um cenário indefinido, os candidatos aproveitaram o sábado (24) para motivar os eleitores, com mensagens nas redes sociais, a comparecer às urnas.
Saiba Mais
Missão da OEA acompanhará eleições presidenciais na Colômbia
Os cinco candidatos, Juan Manuel Santos, que tenta a reeleição pela coalizão Unidade Nacional, Oscar Zuluaga, do Centro Democrático, Marta Ramírez, do Partido Conservador, Enrique Peñalosa, da Aliança Verde, Clara López, do Pólo Democrático Alternativo e União Patriótica, usaram as redes sociais para convocar eleitores e reforçar suas propostas.
A campanha de Santos chamou os colombianos, no Twitter, a “votar pela paz”, lembrando dos avanços no processo de paz entre o governo e as Farc.
Oscar Zuluaga e seu principal “cabo eleitoral” - o ex-presidente e senador Álvaro Uribe - usaram o Twitter para convocar os colombianos e escreveram sobre as propostas do Centro Democrático, de extrema direita.
Crítico do processo de paz, Zuluaga disse querer um “cessar-fogo unilateral” das Farc e que a guerrilha abandone todas as atividades criminosas para continuar o diálogo. Ele também promete investir mais em segurança e no aparato militar do país.
A conservadora Marta Ramírez chamou os eleitores para o voto consciente. “Que tal se não votarmos naqueles que desprestigiaram seus adversários e escolhermos quem tem melhores propostas?”, escreveu.
Enrique Peñalosa, candidato de centro-esquerda, bastante forte na capital, tentou sair da dicotomia entre "guerra e paz", construída em torno de Santos e Zuluaga.
Mais à esquerda, Clara López convocou as mulheres a valorizar o voto feminino. “Convido a todas vocês, chegou a nossa hora”, escreveu.
O analista Jorge Restrepo lembrou que todo o esforço para diminuir a abstenção é válido para os candidatos, porque as últimas pesquisas de intenção de voto mostraram grandes variações. “Santos e Zuluaga apareceram muito próximos, mas o terceiro lugar oscila entre Marta e Peñalosa”, explicou.
Para ele, a única certeza é que o país terá segundo turno em junho, para escolher o novo presidente. “Mas podem ocorrer surpresas sobre os nomes”, disse.
O encerramento da votação está previsto para as 16h (18h em Brasília). A Registradoria Civil (órgão eleitoral) colombiana deve divulgar o resultado preliminar no começo da noite de hoje..