Dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas de Madri neste sábado para exigir um referendo para a abolição da monarquia e o restabelecimento de uma república na Espanha. A manifestação aconteceu poucos dias depois de o rei Juan Carlos abdicar em favor de seu filho, o príncipe Felipe.
"A Espanha amanhã será republicana", gritavam os manifestantes, que agitavam as bandeiras de cores vermelha, roxa e amarela que representaram a Segunda República, proclamada em 1931 e derrubada oito anos depois pelo general Francisco Franco, ao fim de uma guerra civil sangrenta.
Dezenas de partidos políticos de esquerda e organizações cívicas participaram da manifestação deste sábado, exigindo "referendo já". O príncipe Felipe deverá ser coroado em 19 de junho, em uma cerimônia no Parlamento.
Nos últimos anos, uma série de escândalos levou a uma queda dramática na popularidade da família real e da monarquia, também atingidas por uma descrença generalizada nas instituições que acompanhou a crise econômica vivida pelo país. Esse sentimento ficou evidenciado nos resultados da eleição para o Parlamento Europeu, em 25 de maio; houve um colapso no apoio aos dois partidos tradicionais (o Partido Popular, de direita, e o Partido Socialista Operário Espanhol, de centro-esquerda).
Entre as forças políticas emergentes está o Podemos, um novo partido de esquerda que surgiu do movimento dos "indignados" em 2011.
"Queremos dar voz ao povo. Por que organizar um referendo é um problema? Por que é um problema dar aos espanhóis o direito de decidir seu futuro?", questionou Pablo Iglesias, um dos líderes do Podemos. "Se o Partido Popular e os socialistas acreditam que Felipe tem a confiança dos cidadãos, ele deveria se submeter a um referendo", acrescentou.
O movimento republicano atraiu principalmente a juventude. Muitos participantes da manifestação não haviam nascido quando Juan Carlos assumiu o trono, em 22 de novembro de 1975, dois dias depois da morte do general Franco.
O comportamento do próprio rei vem sendo alvo de críticas nos últimos anos. Em abril de 2012, as fotos do rei posando ao lado do corpo de um elefante que ele havia matado em Botsuana causaram indignação, por causa do contraste entre um rei que se dava ao luxo de fazer safáris na África e um país em crise, com taxa de desemprego acima de 20%.
Sua filha Cristina, sétima na linha de sucessão ao trono, está sendo processada por evasão de impostos, tráfico de influência e lavagem de dinheiro.