Após 39 anos de reinado, muito comovido, o rei Juan Carlos I da Espanha assinou nesta quarta-feira a lei que autoriza sua abdicação em favor de seu filho Felipe, que prestará juramento na quinta-feira, com o desafio de recuperar a imagem de uma monarquia desacreditada.
Enfraquecido após seguidos problemas de saúde, desgastado pelos escândalos, Juan Carlos, de 76 anos, dá espaço a seu filho, que se tornará à meia-noite Felipe VI, novo rei da Espanha.
Diante de cerca de 160 convidados, o ambiente era de solenidade no Salão das Colunas do Palácio Real de Madri para a última cerimônia oficial de Juan Carlos.
Contendo as lágrimas, com passos exitantes, apoiado em uma muleta, o rei, em roupas civis e gravata cor de rosa, atravessou a sala para assinar a lei.
Sentado junto com a esposa, a rainha Sofia, e o novo casal real, Felipe e Letizia, Juan Carlos abraçou efusivamente seu filho, de 46 anos, depois da assinar a abdicação.
Sob aplausos, Juan Carlos trocou de lugar com Felipe, um símbolo da passagem inédita desde o início da democracia espanhola, em 1978.
Escolhido em 1969 pelo ditador Francisco Franco, o rei ascendeu ao trono dois dias depois de sua morte, em 22 de novembro de 1975.
Durante toda a cerimônia, sua nora Letizia, que se tornará, aos 41 anos, a primeira rainha da Espanha a não ter sangue real, não descuidou por um segundo sequer suas duas pequenas filhas: Leonor de oito anos, a nova princesa das Astúrias, e sua irmã Sofia, de sete anos.
O chefe do governo conservador, Mariano Rajoy, ratificou a abdicação após a assinatura do rei.
Afirmando querer dar lugar "a uma nova geração", Juan Carlos deixa como legado a delicada missão de reerguer uma monarquia desacreditada e de preservar uma unidade nacional ameaçada pelo aumento dos clamores separatistas da Catalunha e do País Basco.
"Ar de festa"
Em uniforme militar, com a faixa vermelha de capitão-general das Forças Armadas, que recebeu das mãos de seu pai, Felipe VI vai jurar na quinta-feira lealdade à Constituição de 1978, pedra angular da democracia espanhola.
A cerimônia acontecerá na presença dos deputados e senadores, mas na ausência de parlamentares republicanos e convidados estrangeiros. Rompendo com a tradição católica, o dia será exclusivamente laico.
Após pronunciar seu primeiro discurso como rei e presidir um desfile militar às portas do Congresso dos Deputados, Felipe, ao lado de Letizia, vai percorrer o centro da cidade de carro.
Cerca de 16 mil flores e centenas de bandeiras vermelhas e douradas da Espanha já enfeitam as ruas de Madri, e mais dez mil bandeiras foram distribuídas aos táxis e ônibus.
"Há um ar de festa", comentou Carlos Tesorero, um espanhol de 60 anos contemplando a fachada do Congresso, enquanto cerca de dez homens estendiam um enorme toldo vermelho com o brasão da Espanha constitucional.
"Parece um jogo de futebol: há um grande número de bandeiras", comentou José Alberto Cajiros, um estudante de 20 anos. Mas ele e seu amigo José Manuel Garrucho se dizem satisfeitos com a mudança.
"O tempo da mudança chegou", comentou este último.
Adornada com flores frescas, a praça do Palácio Real espera dezenas de milhares de pessoas que vão acompanhar na quinta-feira o casal real saudar a multidão da varanda central, junto com suas filhas e com Juan Carlos e Sofia.
Durante todo o dia, a figura do jovem rei vai ofuscar a de Juan Carlos, que não estará presente na cerimônia no Congresso dos Deputados e na recepção no Palácio Real, que terá a presença de 2.000 convidados e embaixadores estrangeiros.
A decisão de se manter distante foi do próprio rei, que quer "o máximo de atenção" a Felipe.
Esperança de uma monarquia contestada por um em cada dois espanhóis, de acordo com pesquisas, Felipe continua popular, mas tem uma pequena margem de manobra em um país onde a crise econômica e uma taxa de desemprego de 26% causaram uma perda de confiança nas instituições.
As manifestações pela república que tinham acompanhado o anúncio da abdicação foram interrompidas. Apenas um protesto, proibido, foi anunciado para quinta-feira em Madri.
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