O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, declarou nesta sexta-feira um cessar-fogo de uma semana para permitir que os rebeldes deponham suas armas e para dar início a um ambicioso plano de paz para acabar com a insurreição separatista pró-russa no leste do país.
O presidente pró-ocidental anunciou o início do cessar-fogo em uma visita a Slovianogirsk, a cerca de 30 km da cidade de Slaviansk, um dos epicentros dos combates. Essa foi a primeira viagem de Porosenhko ao leste desde sua posse em 7 de junho. De acordo com o porta-voz das operações militares ucranianas, Vladislav Selezniov, esta medida provisória terá efeito às 22h00 (16h00 de Brasília).
Esse anúncio dá impulso ao plano de paz de 15 pontos que prevê a descentralização do poder e anistia para aqueles que não cometeram crimes graves. Mas, de acordo com a Rússia, "uma primeira análise mostra que este não é um convite à paz e às negociações, mas um ultimato para que as milícias no sudoeste da Ucrânia entreguem suas armas".
Além disso, em um sinal de que a situação entre os dois países está longe da tranquilidade, o Kremlin exigiu que Kiev de desculpe por disparos e efetuados contra um posto de fronteira a partir do território ucraniano que feriram um guarda. "A parte russa segue esperando uma explicação e uma desculpa", indica um comunicado da presidência.
A insurreição separatista na região industrial de Donbass já causou a morte de 365 pessoas desde abril e ameaça a unidade da Ucrânia, ex-república soviética que deve selar um acordo de associação histórico com a União Europeia em 27 de junho. "Hoje, 20 de junho, o cessar-fogo deve começar. Ele vai durar até 27 de junho", declarou Poroshenko, considerando ser "mais do que suficiente (sete dias) para iniciar o processo de desarmamento, e começar a estabelecer uma zona de segurança ao longo da fronteira entre Rússia e Ucrânia".
Rejeição dos separatistas
Mas um líder rebelde rejeitou imediatamente as condições do processo de paz. "Ninguém vai depor suas armas enquanto não houver uma retirada completa das tropas de nosso território", declarou Valerii Bolotov, líder da república separatista autoproclamada de Lugansk, citado pela agência Interfax Ucrânia.
O plano de paz prevê garantias para a segurança dos participantes das negociações de paz, uma anistia para aqueles que depuserem as armas e não cometeram crimes grave, a libertação dos reféns e a criação de uma zona especial de 10 km na fronteira entre Ucrânia e Rússia.
Ele também estipula um desarmamento imediato e o fim da ocupação ilegal dos prédios das administrações regionais de Donetsk e Lugansk, controlados pelos rebeldes separatistas, além de estabelecer a organização rápida de eleições legislativas locais e um programa para a criação de empregos na região.
Um 'corredor para os mercenários'
O plano prevê ainda a criação de "corredores" para que os mercenários russos e ucranianos deixem a zona de conflito, a descentralização do poder e a proteção da língua russa por meio de emendas à Constituição.
O presidente pró-Ocidente Petro Poroshenko conversou na quinta-feira à noite por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o plano de paz, que ainda deve ser apresentado oficialmente. De acordo com o Kremlin, Putin fez uma série de comentários sobre o plano e citou a necessidade do fim imediato da operação militar de Kiev contra as milícias separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk.
Rejeição russa após acusações da Otan
Quinta-feira à noite, o presidente francês, François Hollande, e a chanceler alemã, Angela Merkel, reiteraram "ao presidente russo a importância da rápida suspensão os combates no leste da Ucrânia para que a situação de segurança se estabilizada e sejam criadas as condições para uma distensão real". Mais cedo, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, denunciou, em Londres, que a Rússia enviou novamente milhares de soldados à fronteira com a Ucrânia.
A Rússia, por meio do porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov, manifestou nesta sexta a sua surpresa com as acusações, afirmando que o deslocamento das tropas russas para uma região próxima da Ucrânia pretende reforçar a fronteira, o que foi determinado há várias semanas. "Neste caso não podemos falar de concentração de tropas, e sim de medidas orientadas a reforçar a proteção das fronteiras da Rússia, sob a ordem direta do presidente Vladimir Putin", disse Peskov, antes de ressaltar que a ordem foi dada "há várias semanas".
O ministro da Defesa da Ucrânia, Mikhailo Koval, por sua vez, disse que o país havia fechado sua fronteira "para os tanques e outros veículos blindados que os separatistas poderiam tentar introduzir a partir da Rússia". Já o governo dos Estados Unidos advertiu nesta sexta-feira que não aceitará a intervenção de tropas russas na Ucrânia e lamentou o que considerou um acúmulo de forças de Moscou na fronteira. "Estamos monitorando cuidadosamente a situação. Não aceitaremos a intervenção de forças militares russas no leste da Ucrânia", afirmou John Earnest, um porta-voz da Casa Branca.
"Relatórios provenientes de Moscou que indicam que o Ministério da Defesa russo está considerando criar cordões militares na Ucrânia oriental também são preocupantes", assinalou. Uma fonte do Ministério da Defesa russo disse à agência de notícias RBK esta semana que as tropas estavam dispostas a entrar em regiões insurgentes da Ucrânia a fim de "retirar barreiras entre a população civil e o Exército ucraniano"..