O papa Francisco excomungou neste sábado, em sua primeira visita à Calábria, região Sul da Itália, a máfia pelo sofrimento imposto por seus membros às crianças.
Além das crianças, jovens calabreses são recrutados para o tráfico de drogas e morrem também vítimas da violência da 'Ndrangheta, a máfia calabresa, ou terminam na prisão. Durante uma cerimônia cercada de emoção, diante de 200 homens e mulheres detidos, alguns chorando e a quem o Papa saudou um a um, Francisco acrescentou: "Eu também cometo erros e devo cumprir penitência". "Quero expressar a proximidade do Papa e da Igreja para com todo homem ou mulher que se encontra na prisão, em todas as partes do mundo", acrescentou o pontífice, que, em Buenos aires, visitava frequentemente as prisões e lavou os pés de jovens detidos em Roma durante a Quinta-feira Santa, pouco depois de sua eleição em 2013.
Francisco centrou sua mensagem na plena reinserção na sociedade, para que a detenção não seja apenas "um instrumento de punição e represália social" que acabaria sendo uma perda de tempo para o detido e para a sociedade. Por isso, o bispo de Roma convidou os prisioneiros a "se encontrarem com Deus na prisão".
O papa argentino realizou em Cassano, localidade pobre perto do Mar Jônico, uma visita com um tom muito social. A máfia prosperou se aproveitando do fracasso dos investimentos da economia legal em uma região na qual o desemprego dos jovens com menos de 25 anos alcançou 56,1%, recorde da Itália em 2013, segundo a agência Eurostat.
Uma multidão acolheu Jorge Bergoglio, de 77 anos, em sua chegada a uma residência para doentes terminais. Depois se reuniu com os bispos da região na catedral. Francisco pediu aos bispos que não sejam apenas empregados da Igreja, mas "canais abertos e generosos para com seus fiéis".
Esta visita de nove horas à região meridional mais pobre da Itália, depois de Campania, ainda foi seguida por uma missa que reuniu cem mil fiéis, diante dos quais o Papa afirmou que a máfia local, "que adora o mal e despreza o bem comum", está excomungada. "É preciso combatê-la, é preciso dizer não a ela. Tantos jovens nos pedem (...) Os que escolheram esse mau caminho estão excomungados", advertiu o pontífice.
Esta é sua quarta visita na Itália fora da diocese de Roma. No ano passado, este Papa muito popular na península viajou a Cagliari (Sardenha), onde denunciou o desemprego dos jovens, a Assis (Umbria), onde celebrou São Francisco, e à ilha de Lampedusa (sul), onde criticou a "globalização da indiferença" e defendeu os direitos dos imigrantes que desembarcam na Europa.
A máfia calabresa, ou N'drangheta, que trafica com parte da cocaína da América do Sul, é hoje a mais rica e a mais diversificada das máfias, com interesses no norte da Itália e na Europa.
.